Pergunta:

Su! Tudo bom? Virou hábito escrever aqui.. Entender certas perguntas que eu fiz e sei que vou fazer pode ser difícil sem saber da fase que quero te contar.. Lá vai um textão. Antes de contar, quero falar daquilo da minha mãe e aquele negócio de virar obesa.. Eu era um pouco gordinha e não gostava muito disso. Não quero parecer exagerada, meu peso era saudável, por isso o ‘inha’. Eu não tinha risco de saúde, entende? É que as garotas da minha idade eram magrinhas, braços fininhos, e eu lá usando roupas da minha irmã mais velha e tendo corpo demais pra doze anos. Isso pra mim não era coisa boa e eu queria mesmo era ser magrela, sabe?, mas a minha mãe nunca deixaria eu emagrecer. Depois das famosas quatro fases antes da aceitação, eu me aceitei mais tranquilamente. Então veio a fase que vou contar agora, os jejuns e o emagrecimento. Eu emagreci, mas além de ter perdido muitas roupas (muitas!), tive receio de não estar saudável. Minha mãe quer que eu engorde de novo. Na minha época de gorda.. digo, gordinha, eu gostava de comer e era boa de boca, mas agora acho errado comer sem ter fome. O ruim é que eu quase nunca tenho fome. Parece que minha alma tá cheia de cicatrizes. É que eu passei por uma fase horrível. Você pegou uma parte dessa fase, a primeira vez que escrevi pra você, quando minha angústia ainda era só depois da escola. Mas logo aumentou. No início eu sentia dor por causa do pecado, por causa dos meus constantes fracassos, porque eu já tinha caído tantas vezes que me perguntava se eu sequer tinha me levantado da primeira queda. Eu pecava muitas vezes, e a todo momento me via em uma luta contra o pecado. Mas em algum momento daquela fase eu me perdi na dor do arrependimento, na angústia de ter feito algo ruim com Deus, e a dor se criava sozinha, tendo eu pecado ou não. Eu me sentia tão afundada em uma profunda angústia. Eu não sentia mais toda a alegria do perdão e da salvação. E ela fazia TANTA falta. E as vezes a dor era grande. Sei que Deus não deixaria que eu sofresse além do que podia aguentar, mas muitas vezes sentia que ia quebrar. Eu NUNCA iria retroceder, mas a dor era tão grande. As pessoas ao meu redor sempre me disseram coisas boas. “Ei, você é uma benção”. Isso me desmotivava mais do que motivava porque eu não era nada do que eles diziam que eu era. Eu cria que tinha o Espírito Santo, mas isso não mudava o quão quebrada eu estava. Eu não entendo o sentimento agora porque não tenho sentido tanto, mas tinha algo em mim que me fazia querer chorar. Eu não tenho palavras sobre o sentimento que me consumia. Eu não sei como descrever o que o meu coração estava passando. Eu não conseguia nem pensar com clareza sobre Deus.. Naquela época eu pensava em tudo o que eu passei com Jesus, eu pensava no dia em que me entreguei pra Ele, em todas as vezes que chorei e me sentia paralisada, como se estivesse na areia movediça, afundando mais a cada vez que tentava sair e me desesperando cada vez mais. Eu sentia que já tinha acabado pra mim. Era muita dor. Parecia conflitante, carne e espírito lutando dentro de mim e cada um se fortalecendo em um momento. Mas eu não queria me render. Parece que no auge da minha angústia eu percebi que eu precisava MUITO de Jesus. E eu só queria entender isso e saber disso sempre, só queria ter estampado na testa que nenhuma luxúria carnal se compara a Esperança Viva. Ainda naquela fase, eu conversei com uma líder espiritual da igreja e ela orou por mim, me consolando até onde podia, mas a minha angústia se criava sozinha, entende? As palavras me ajudavam um pouco, mas meu sentimento ruim não se baseava nelas.. Falei com uma menina pouco mais velha que eu da igreja e descobri que ela tinha passado por essa fase e a motivação dela era passar por tudo isso pra ajudar alguém que estivesse passando. Eu achei isso tão lindo que queria o mesmo.. Eu não quero nenhuma garota tão nova, ou mesmo qualquer pessoa de qualquer idade, passando pelo que eu passei. Quero consolar e ajudar as pessoas nessa situação a se reerguerem. Não pensando que palavras vão curá-las de um dia pro outro, porque isso nunca acontecia comigo, mas sabendo que será um processo, que passaremos por isso juntas. E parece que o seu objetivo aqui é esse: Ajudar as pessoas com problemas incapazes de serem resolvidos por quem passa por eles. Isso, quem sabe, porque um dia você foi uma garota que precisou de ajuda. Um dia, talvez, você tenha sido S., uma garota que tinha uma pergunta pra fazer, um conflito pra resolver. Mesmo estando aqui a pouco tempo, parece que estou tão familiarizada com sua causa. Antes de me aprofundar no meu conflito, quero te agradecer por ter ajudado centenas (quem sabe milhares?) de garotas de A a Z com seus problemas. É admirável uma causa assim. Nessa fase eu me tornei quase religiosa. Eu observava o pecado paranoicamente. Parei de gostar tanto de comer porque talvez cometesse gula e passei a ter um pouco de raiva da comida. Fazia jejuns além da conta (isso a pouco tempo), desde os parciais (de refrigerante, de chocolate..) aos totais. E fui emagrecendo. Foi um processo gradativo me recuperar e parece que nem vi acontecer. Era uma mistura de pregações de chorar, músicas e admiração por pessoas que amavam tão fervorosamente ao Senhor. Aos poucos foi acabando porque eu ia ocupando a mente com outras coisas e ainda está sumindo. Agora.. Eu tô legal. Não sei. Esses dias comecei a ler a primeira epístola de João como uma carta pra mim porque me identifiquei bastante. Peço ajuda a Deus pra me santificar mas me sinto bem pra baixo aqui e ali.. Mas eu quero um relacionamento muito mais forte com Deus, interno e não externo. Eu quero o Espírito Santo de verdade, quero ser fervorosa e apaixonada por Deus de verdade e não só aparentemente, porque durante aquela fase ruim eu APARENTEMENTE estava bem. Eu finalmente quero estar comprometida e envolvida ao máximo nesse amor. Quero ter uma fé irrevogável e ser incapaz de voltar atrás. Mas as vezes o comodismo ataca e a determinação é só uma miragem. As vezes aparecem sequelas daquele momento de dor. As vezes vem um tal de “talvez Ele já tenha me rejeitado” que eu não desejo pra ninguém. M.

Resposta da Sú:

Hello, M.! Você é sempre bem-vinda aqui. Muito obrigada por sua confiança e disposição de explicar um pouco melhor o que aconteceu e anda acontecendo em sua vida.

Quanto à alimentação, de fato em geral é super errado comer sem ter fome e, em alguns casos, é gula mesmo. MAS (e esse mas é beeeeem importante), às vezes nosso apetite fica desregulado por uma série de motivos, o que significa que não podemos confiar nele. Nessas horas, precisamos confiar em pessoas que Deus coloca em nossa vida para nos ajudar a manter a boa saúde e disposição necessárias para servi-lo com dedicação. Ascetismo (dê uma pesquisada nessa palavra – é bem interessante) é uma ideia que a Bíblia não apoia e, com certeza, não contribui em nada para nosso crescimento espiritual.

E, por falar em crescimento espiritual, uma coisa que observei em sua descrição foi uma questão de foco. Em minha opinião, um dos motivos de suas angústias espirituais é que você está (ou talvez estava) dedicando tempo e esforço demais a olhar para si mesma: seus pecados, suas falhas, sua incapacidade de agradar a Deus. Eu gosto muito do que diz em Hebreus sobre isso. Depois de o autor falar no capítulo 11 sobre os “heróis da fé” (alguns dos nomes mencionados são de pessoas extremamente imperfeitas, aliás), ele fala no capítulo 12 sobre nos livrarmos do peso do pecado para corrermos melhor. Mas o foco dele não é o pecado, nem o pecador. Veja o que diz Hebreus 12.2. A instrução é para manter nosso olhar fixo em Jesus. Ou seja, a maioria dos nossos pensamentos não deve ser sobre nossos erros, nossas imperfeições, nossa dificuldade em resistir ao pecado. A maioria dos nossos pensamentos deve ser sobre o amor de Jesus; o sacrifício dele por nós; a santidade que já temos nele; o fato de Deus nunca mais se irar conosco, pois já derramou toda sua ira sobre Jesus na cruz; o trabalho que o Espírito Santo está fazendo em nós, de nos tornar cada dia mais semelhantes a Cristo. Esses devem ser os nossos pensamentos mais frequentes. E, quando pedimos ajuda de Deus para manter nosso foco em Cristo, isso trata de muitas das angústias e desânimos que nos assolam e que o inimigo tenta usar para nos afastar de Deus. De fato, todos os cristãos verdadeiros passam, pelo menos uma vez na vida, por uma fase como essa que você descreve. Mas, a maneira de sairmos de verdade dela e não entrarmos outra vez é manter o olhar em Cristo. Ele é muuuuuito maior que nossas limitações e fraquezas e ele nuca jamais vai nos deixar no meio do caminho (lembra-se de Filipenses 1.6?).

Portanto, minha amiga, olhe para ele. Quem santifica você é o Espírito, e não você mesma e quem mantém você salva e faz sua fé crescer, também é ele. Quem purifica você é ele. Qualquer coisa que façamos é resultado da obra dele. Tudo o que você vai ler em 1João precisa ser praticado com forças de Deus, e não suas. Aliás, talvez você se interesse em ler este texto que escrevi esta semana:

http://depapocomasu.blog.br/deus/2018/03/a-salvacao-e-para-sempre/

E você tem razão. Deus permitiu que eu passasse por muitas situações bem dolorosas e, com certeza, ele está usando isso para o bem. Meu desejo é que ele me ajude a consolar outras pessoas com a mesma consolação que ele sempre me dá (veja 2Coríntios 1.3-6). Houve dificuldades, porém, que foram consequência natural de eu não manter meu olhar fixo em Jesus. Claro que Deus não desperdiça nenhum sofrimento, mas existem sofrimentos que podem ser evitados. Que Deus nos ajude a olhar muito mais para a perfeição dele e que ele possa continuar usando nossa vida para abençoar outras, conforme a vontade dele 🙂

Até a próxima!

 

Kisses,

Su