Hello A.! Como suas perguntas são sobre o mesmo assunto, vou responder as duas aqui, ok?
Primeiro, a meu ver, muitos dos dons são uma “porção adicional” ou uma “versão turbinada” de coisas que o Espírito vai trabalhando na vida de todos os cristãos, como fé, misericórdia, serviço, intercessão.
Também são voltados especificamente para a edificação da igreja como comunidade, e não apenas para os relacionamentos pessoais. Por exemplo, todos os cristãos são chamados a orar uns pelos outros, mas alguém com um dom específico nessa área provavelmente terá desejo de perguntar com mais frequência “Como posso orar por você?”, terá mais iniciativa de organizar e participar de grupos de oração na igreja, no Whatsapp, fazer listas de pedidos/respostas, ou talvez se sentirá mais à vontade para orar em público, ou terá prazer em interceder de maneiras bem detalhadas, e assim por diante. Da mesma forma, todos somos chamados a servir uns aos outros, mas alguém com o dom de serviço talvez se mostre mais atento para necessidades específicas, tarefas a serem realizadas, formas de organizar trabalhos, e por aí afora.
Em minha opinião, por vezes nos preocupamos demais em identificar e exercitar nossos dons. Algumas igrejas têm testes, cursos, etc. Claro que é importante aprendermos sobre os dons. Mais importante, porém, é simplesmente nos colocarmos à disposição de Deus para que ele nos mostre como podemos servir a outros em nossa comunidade de fé. Se nos concentrarmos demais em uma categorização de dons, pode acontecer de perdermos oportunidades de ministrar, nos tornarmos confusos ou até arrogantes a esse respeito. Sempre que perguntamos a Deus com sinceridade como podemos ajudar a edificar o corpo, ele nos mostra, mesmo que não tenhamos todo o conhecimento “técnico” e a nomenclatura certa. Aliás, os textos bíblicos que falam sobre dons não são absolutos e completos. Se você observar, verá que eles mencionam apenas algumas das capacitações especiais que o Espírito concede para que contribuamos para fortalecer o Corpo de Cristo. Se você deseja usar bem os seus dons, cultive a atitude de disponibilidade e serviço de Maria, que disse: “Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra” (Lucas 1.38).
Quanto a Romanos 11.29, recomendo que você leia o capítulo todo, pois esse não é um texto sobre os dons do Espírito. Aliás, onde aparece “dons” nesse versículo, algumas versões trazem “bênçãos”, pois esse é o sentido mais exato. Paulo está falando da questão dos judeus e dos gentios e dizendo que, embora os gentios também façam parte da aliança com Deus, as bênçãos prometidas por Deus a Israel não foram revogadas.
E, em minha opinião, a parábola dos talentos em Mateus 25.14-30 está entre alguns dos textos mais mal usados/aplicados/interpretados da Bíblia. Precisamos lembrar que parábolas contam uma história para mostrar um significado espiritual mais profundo e, portanto, não podem ser interpretadas de forma literal. Quando Jesus contou a parábola da ovelha perdida, por exemplo, não estava falando da importância de cuidar bem dos animais. Estava falando de como Deus toma a iniciativa de nos procurar e nos salvar. Aqui, é a mesma coisa. Não é uma história simplesmente sobre bom uso de recursos/dons ou como fazer investimentos financeiros. É sobre o quanto cada servo conhecia verdadeiramente seu senhor e confiava na bondade dele. O último servo se complicou porque tinha uma imagem terrivelmente distorcida e negativa do senhor (veja o v. 24), que não correspondia de maneira nenhuma à realidade. A meu ver, essa parábola nos mostra que, se não conhecemos bem a Deus, vivemos com medo, sem liberdade de agir, tomamos decisões infelizes que não alegram o coração dele. Quanto mais entendemos sua bondade e sua justiça, mais livres somos para viver dentro de seu amor, servir outros, compartilhar recursos e nos dedicar a edificar o reino.
É isso, amiga. Se quiser, releia as passagens bíblicas que você mencionou (1Coríntios 12 também fala bastante dos dons) e, se ainda tiver dúvida, é só passar aqui novamente.
Até a próxima!
Kisses, Su