Hello, D.! Muito obrigada por dividir sua experiência e suas reflexões. Para começar, considero importante a gente entender que algumas coisas que acontecem não podem simplesmente ser categorizadas como “pecado” ou “não pecado” e ponto final. Sim, existe certo e errado. E sim, Deus nos dá instruções às quais devemos seguir. No entanto, também existe uma área menos definida, em que certas experiências são oportunidade de aprendizado, para conhecermos melhor a Deus e a nós mesmas. A meu ver, o episódio que você relatou foi algo nesse sentido. Você abordou a questão com cautela, procurando identificar o que poderia não agradar a Deus em uma situação desse tipo. Ao mesmo tempo, você também desconfiou de suas motivações (algo bom, mas sem exageros). Em vez de se concentrar primeiramente na avaliação do que você fez como certo/errado, pense na ligação entre esse episódio e seu relacionamento com Deus. Como você pode conversar com ele a esse respeito? Que pensamentos e sentimentos você deseja expressar e pedir ajuda, clareza e direção dele? Se sua consciência ainda está pesada, diga isso para Deus. Peça para ele mostrar claramente se você precisa pedir perdão por algo. Lembre-se de que o verdadeiro arrependimento é algo que vem de Deus, como presente da bondade dele. Não pode ser apenas resultado de sentimentos que temos, condicionados por determinados padrões morais (ou falta deles). Padrões morais são referenciais importantes, mas eles também podem ser distorcidas para mais ou para menos.
Minha impressão é de que o desconforto que você sentiu pode ter sido exatamente porque você entrou em uma dessas áreas de indefinição e, portanto, em “território desconhecido”. Isso é sempre meio assustador, mas também é uma oportunidade excelente de maior intimidade com Deus.
Eu coloquei seus adendos porque me pareceu que eles trazem algumas considerações importantes. Sem dúvida, o tipo de cena de sexo, o motivo de ela estar presente, o nível de maturidade/momento de vida de quem está assistindo/lendo e o propósito dessa cena precisam ser levados em conta. No entanto, em minha opinião, apenas muuuuuito raramente (ou nunca?) uma cena de sexo explícito, seja em livro, série, filme, HQ, etc., é realmente justificada e essencial. Bons autores e roteiristas são capazes de insinuar sem mostrar abertamente. São capazes de pegar um diálogo que, aparentemente, só funcionaria em uma cena de sexo, e colocá-lo em outro lugar. É para isso que existe criatividade. Aliás, muitas vezes, quando esse recurso é bem usado, ele comunica ideias e sentimentos de maneira mais forte do que uma cena explícita, sem despertar em nós uma porção de pensamentos e sentimentos que, embora de si mesmo talvez sejam naturais e saudáveis, podem sair rapidamente dos trilhos.
Aliás, o que você falou sobre como o sexo com frequência parece meio sujo quando é retratado explicitamente para entretenimento (ou para despertar desejo, como no caso da pornografia) é muito real! A meu ver, sexo não foi feito para ser retratado explicitamente. É íntimo demais. É bonito demais. Quando é tirado do contexto de intimidade de alma, sempre acaba sendo um tanto banalizado. Por isso eu sou a favor do uso de recursos narrativos que apontem para a presença do sexo sem mostrá-lo. A história avança, a gente entende o que aconteceu, mas sem banalizar.
Em última análise, em minha opinião, entretenimento com cenas de sexo é meio que um “campo minado”. Com um pouco de cuidado (e sorte?) você pode atravessá-lo e sair ilesa. Mas, existe a grande possibilidade de você se explodir no meio do caminho, kkk. Portanto, minha abordagem pessoal é evitar. Vi em primeira mão na minha família o estrago que pornografia faz e não desejo isso para ninguém. Ao mesmo tempo, assim como não creio que todo ato de masturbação seja pecado (também envolve uma porção de fatores), não creio que toda interação com cenas eróticas seja pecado. Mas pode se tornar facilmente algo que nos afasta dos bons propósitos de Deus para nossa sexualidade e, por isso, precisa ser abordado com muuuuuita cautela.
E, por fim, viver com leveza diante de Deus não significa acertar 100%, o tempo todo. Não significa ter um comportamento mega-certinho em todas as coisas, não ter dúvidas nem deslizes. Viver com leveza diante de Deus significa saber que temos espaço para investigar algumas coisas quando nos mantemos conscientes da presença e da ajuda do Espírito de Deus. Significa viver atentas para o relacionamento de amor com ele, mais do que apenas para a divisão pode/não pode. Como eu não canso de falar, é um processo de aprendizado. É nesse processo que Deus vai se revelando a nós e nos ajudando a entender a vontade dele de forma bondosa. Pode ter certeza de que essas experiências que hoje parecem um tanto assustadoras e aflitivas poderão ser usadas por Deus para você caminhar com outras pessoas também, para compartilhar com elas o inexprimível amor divino. Descanse nisso, minha amiga. E que Deus a ajude a crescer cada vez mais na maravilhosa leveza da graça*!
Kisses,
Su
*Tenho o sonho de escrever um livro com esse título algum dia 🙂