Pergunta:

Olá su :) tenho um “problema” que me vem me incomodando bastante. quando conto isso pra alguém, sempre falam que eu to me gabando etc, mas sei que você não vai me julgar (espero)
eu gosto muito de estudar idiomas. é o meu maior hobby. sempre que estou aprendendo uma língua, tento me inserir o máximo possível na cultura de um dos países em que ela é falada, e eu acho que isso me ajuda bastante, mas também me prejudica. eu falo inglês (comecei a estudar com 11) e alemão (comecei com 15), e agora estou aprendendo holandês. eu era bem mais nova quando comecei a aprender os dois primeiros, e com essa história de imersão cultural, parece que eu acabei moldando minha personalidade e meus gostos a coisas tipicas da inglaterra e da alemanha, por exemplo. aí tudo virou uma salada de frutas: eu penso e me comporto como se fosse brasileira, inglesa e alemã. gosto de séries de tv em um idioma, leio em outro, vejo memes em mais outro, tenho noções e concordo com o padrão de beleza de outro. tenho amigos desses países e de outros também.
ao longo do tempo, parece que não consigo mais gostar da companhia dos meus amigos e arrumar outros, pq o fato de eles não me “entenderem” sempre me irrita. eu vejo um vídeo no tiktok e não posso mandar pra um deles pq eles não falam o idioma dele. e às vezes, quando falam, não entendem porque nunca moraram no país. como eu ainda estudo alemão, parece que essa cultura tá mais presente e frequente na minha vida, e isso de alguma forma piora minha situação. eu fico evitando a companhia de alguns amigos pq simplesmente não suporto ter que traduzir, tentar explicar tudo toda hora, além de alguns estarem sempre dizendo que sou estranha pq faço isso e aquilo que ninguém no brasil faz etc. parece que nossos gostos não são iguais e a gente nunca tem assunto pra conversar, sabe? eu realmente queria ter uma identidade nacional, falar e agir como alguém do meu estado, e não alguém que age tão aleatoriamente que ninguém sabe de onde ela é. parece que ninguém gosta de mim e que eu não pertenço a lugar nenhum. às vezes eu acho que vou viver a minha vida inteira sozinha, já que ninguém com certeza se identifica comigo. isso me causa uma angústia muito grande. parece que eu não sei quem eu sou. nesse caso, seria bom que eu procurasse ajuda na terapia? K.

Resposta da Sú:

Hello, K.! Para começar, não percebo como arrogância o que você está dizendo. É um dilema real, para o qual você precisa buscar saídas práticas.

Eu sou descendente de alemães e russos, cresci no meio de estrangeiros, morei fora do Brasil, estudei outros idiomas e tenho dificuldade de me identificar com alguns aspectos da cultura brasileira. Portanto, acho que faço uma ideia daquilo que você está falando, kkk.

Vou compartilhar com você, portanto, algumas coisas que tenho aprendido a esse respeito. Aliás, muitos desses aprendizados vêm de conversas com psicólogos. Respondendo sua pergunta final, portanto, acho que vale muuuuito a pena você buscar ajuda na terapia.

Primeiro, uma coisa que tenho descoberto é que não existem culturas boas ou más. Existem apenas culturas com as quais nos identificamos mais ou menos. Não adianta, portanto, criticar isto ou aquilo em uma cultura. É melhor gastar energias buscando maneiras de conviver com os aspectos difíceis dessa cultura.

Segundo, ter contato com várias culturas é uma oportunidade de aproveitar o que cada uma tem de melhor. Eu gosto da pontualidade e da atenção a detalhes dos ingleses, da objetividade e da previdência dos alemães, da capacidade de organização dos americanos (especialmente em situações difíceis), da alegria e resiliência de muitos brasileiros, e por aí afora.

Terceiro, uma coisa é estudar culturas à distância. Outra coisa é viver dentro dessa cultura, em outros país. Tudo o que eu disse no item anterior é “generalização bem geral”, rs. Existem ingleses atrasados, alemães insinceros, americanos desorganizados e brasileiros mal-humorados, kkk. É importante, portanto, não exaltar demais nenhuma cultura, pois culturas são feitas de pessoas, e pessoas são falhas (de maneiras incrivelmente semelhantes pelo mundo afora).

Aliás, quarto, em vez de me concentrar nas diferenças entre culturas e ficar comparando uma com a outra, tenho achado interessante ultimamente observar e ressaltar o que pessoas do mundo inteiro têm em comum. Isso tem me ajudado a ser menos crítica com a cultura brasileira, por exemplo, e a entender que posso encontrar pertencimento em qualquer lugar do mundo.

Quinto, existem diferenças culturais que me incomodam aqui (por exemplo, a mania dos brasileiros de chegar atrasados, as coisas feitas de última hora, etc.), mas eu entendo que preciso aceitar essas diferenças (da mesma forma que as pessoas de outros países em que a gente vai morar aceitam nossas diferenças também).

E, por último, é possível cultivar boas amizades com pessoas de várias culturas (inclusive com brasileiros!), desde que a gente coloque as questões de culturas e idiomas em segundo plano, em vez de fazer delas o centro de nossa identidade e de nossos relacionamentos.

Eu me identifico com sua sensação de “não pertencimento” e posso lhe dizer que, aos poucos, tenho descoberto que, mais importante que pertencer a uma cultura, é saber que eu pertenço a um Deus que me ama de paixão, que quer sempre se relacionar comigo e que quer me ajudar a me relacionar com outros. Converse com ele sobre isso! E busque uma terapia para acompanhá-la nessa jornada. Deus pode usar esse recurso para abrir seus horizontes e ajudar você a descobrir sua verdadeira identidade.

E, sempre que quiser trocar uma ideia, estamos à disposição!

Kisses,

Su