Querida L., muito obrigada por dividir algo tão delicado e difícil de contar. O simples fato de você conseguir expressar tudo isso já faz bem, pois você não guarda mais só para si mesma e abre oportunidades para Deus tratar dessa questão em sua vida.
Em minha opinião, precisamos entender a situação de seu irmão como um todo. A depressão é, sim, uma doença psiquiátrica que requer cuidados e atenção como qualquer outra doença, seja do corpo ou da mente. Como você mesma disse, porém, isso não quer dizer que seu irmão não tenha consciência das coisas. Quer dizer, contudo, que por causa da depressão e por causa das coisas erradas que ele ouviu na igreja, talvez exista uma distorção séria na maneira de ele perceber e entender algumas coisas, inclusive a sexualidade dele e das pessoas ao redor.
Dentro desse contexto, eu concordo que o episódio da infância que você relatou não foi, necessariamente, algo feito com a intenção de abuso sexual. É possível que esse acontecimento tenha apenas refletido essas distorções de percepção e comportamento dele e que você tenha acabado envolvida nisso. O que aconteceu não foi normal, mas também não quer dizer que precisa ter marcado e traumatizado vocês dois para o resto da vida. Em minha opinião, não existe motivo imediato para você discutir essa questão com sua família. Mas se é algo que tem incomodado você, seria muito útil você conversar com alguém qualificado para analisar todas as implicações disso (veja minha sugestão mais adiante).
Acho fundamental, porém, você deixar claro para seu irmão e para o restante da família que você não gosta das brincadeiras que ele faz hoje. É importante ser bem assertiva nesse sentido e exigir que ele respeite você. Só porque amamos e gostamos de alguém não quer dizer que devemos tolerar certas coisas, ok? Eu sei que ele tem os problemas e as limitações dele, mas sempre que surgirem essas gracinhas, proteste e converse novamente com sua mãe.
E, quanto às variações de humor e estado de espírito de seu irmão, de fato o ideal seria que ele tivesse acompanhamento psiquiátrico, medicamentos e terapia psicológica. Mas, como isso parece não ser possível no momento, minha sugestão é que você (e sua família) procure ajuda de um psicólogo para orientá-la sobre como lidar com seu irmão e com as questões de saúde dele que afetam vocês todos. Valeria muito a pena você receber o apoio de um profissional preparado e qualificado para orientá-la tanto sobre as questões do passado que talvez estejam afetando você hoje, quanto sobre os desafios práticos do presente. Eu sei por experiência própria o quanto Deus usa psicólogos (sejam eles cristãos ou não) e conselheiros para nos ajudar a lidar com pessoas difíceis em nossa vida quando elas próprias não querem receber ajuda.
Portanto, amiga, continue orando para que Deus trabalhe na vida de seu irmão, como você tem feito. Mas peça para Deus colocar em sua vida alguém para acompanhá-la mais de perto no relacionamento com seu irmão.
E, sempre que quiser perguntar, conversar ou só desabafar, estamos aqui!
Kisses,
Su