Pergunta:

Olá Su! Mais uma vez obrigado pela boa vontade em me ajudar. Eu também tenho “mania” de ajudar as pessoas, mas ainda estou aprendendo em muitas coisas rsrs.
Concordo, muitas vezes a família e até a igreja contribuem para afastar da religião em vez de aproximar, aí a jovem acaba brigando com Deus, como se Deus tivesse culpa dos maus pastores… Mas eu não discuto preceitos religiosos alheios, respeito todos, só procuro auxiliar naquilo que está a meu alcance.
Não perdi tempo e já fui conversar com a minha tia, aquela que está recebendo a minha prima adolescente. Ela até que foi simpática, só não concordou em rezar comigo, pois disse que só pode rezar junto com quem é da igreja dela (vê se pode!!!) Só não pude conversar ainda com a menina, pois quero ter essa conversa sem a presença da mãe ou da tia dela, mas concordo com tudo o que você escreveu: ela precisa ter mais respeito pelo próprio corpo, senão sofrerá consequências e poderá pagar inclusive com o corpo (muito coerente).
Eu li com atenção aquele link que você indicou, e fiquei bem impressionada. É sempre bom a gente aprender com a experiência daqueles que já mandaram perguntas para a sua página, assim ajudamos e somos ajudadas. Mostrei para a minha tia, e ela gostou. Mas eu admito que certas coisas me deixaram meio na dúvida. É preciso separar um ponto do outro. Eu achei sábio que seja passado um recado assim implícito de que a adolescente não está lá para ser homenageada, pois afinal alguma coisa ela fez. Por isso a necessidade de cumprir tarefas domésticas como forma de disciplina, e ter que obedecer, pedir licença etc. Mas agora, será isso uma humilhação?
Eu pergunto isso porque achei aquelas descrições muito parecidas com o que está acontecendo em outro caso da minha família, também de uma prima, mas essa do lado paterno. A moça tem 15 e desde o princípo do ano está na casa de outra parenta, e está em um esquema parecido. Ela tem que fazer serviços, tipo não é igual ao de uma empregada, mas é para diferenciar, por exemplo, outra moça que está lá hospedada para fazer faculdade, essa não tem que fazer serviços em casa e pode sair a hora que quiser. Ela também faz os serviços descalça.
Aí fico pensando: não concordo que o pecador tenha que ficar com o seu pecado sendo jogado na sua cara o tempo todo, mas também não dá para tratar o pecador igual ao justo, pois isso seria omissão. Então eu concordo que o tratamento daquelas minhas primas seja diferenciado como forma de disciplina, mas aí entra outra questão: até que ponto isso é humilhação? A disciplina não é feita para ser agradável, certamente. Por exemplo, isso dela ter que trabalhar descalça eu achei um jeito sábio e discreto de passar uma mensagem, mas será que a adolescente vê isso como uma humilhação? Ou é “viagem” minha?
Bom, isso eu só poderia saber se estivesse lá e conferisse, mas estou na dúvida: você acha que eu devo fazer uma visita e dar uma investigada? Ou será que eu estaria me intrometendo por bobagem? É que eu me sinto meio responsável pelo que vai acontecer com a minha outra prima (a de 17) e bem ou mal já estou metida no caso dela, então queria ter certeza de que estou passando uma boa receita, né?
Graça e Paz! H.

Resposta da Sú:

Hello, H.! Suas mensagens são sempre bem-vindas 🙂 Sinto muito de saber que sua tia não quis orar/rezar com você. Mas, não tem problema. Você pode orar sozinha por toda essa situação e, com certeza, Deus ouvirá e atenderá segundo a vontade dele!

Quanto a essa questão de mandar uma adolescente para fazer trabalhos domésticos na casa de parentes, acho importante deixar claro que eu discordo. O que a gente tenta fazer ao responder sobre isso é “contenção de estrago”. A meu ver, essa ideia é fundamentada em premissas equivocadas. Por exemplo, trabalho doméstico é algo bom e nobre e, portanto, não faz sentido ser imposto como castigo. Além disso, quando um filho erra, é o momento em que mais precisa da atenção, das orações, do apoio espiritual e orientação dos pais. Banir para a casa de outra pessoa transmite forte mensagem de rejeição não do pecado, mas de quem o cometeu.

O princípio bíblico que Jesus deixou bem claro em João 8 (vale a pena reler essa passagem) é: “Eu também não te condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado” (João 8.11). Primeiro vem a compaixão, a não condenação. Depois vem a instrução para mudar de vida. Muitas vezes, nossa abordagem consiste em exigir mudança de vida para, então, perdoar e aceitar. Além disso, mesmo nós que somos salvas e remidas em Cristo ainda cometemos pecados. Então por que fazer tamanha distinção entre “pecador” e “justo”? E por que homens gananciosos, meninos que transam antes de casar, etc., também não são obrigados a fazer serviços domésticos descalços? Por que isso é reservado geralmente para meninas que perderam a virgindade? Será que não estamos tratando essas meninas como os fariseus trataram a mulher surpreendida em adultério?

Em Romanos 2.4, Paulo também dá uma mensagem clara para nós: “Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?”. O que nos leva ao arrependimento é bondade. Deus nos trata com bondade, Jesus não nos condena. É isso que leva alguém ao arrependimento. É quando somos confrontadas com o amor de Deus e de outros que entendemos o tamanho de nossos erros e de nosso desamor. Sim, o pecado tem consequências, mas em sua bondade, Deus até mesmo nos poupa de algumas delas. Se não fosse pela misericórdia de Deus, seríamos consumidas (Lamentações 3.22). Claro que a disciplina não é agradável, mas Deus a aplica com amor, com bondade e sem nos afastar dele.

Eu sei que você não tem autoridade para mudar a abordagem adotada por seus familiares, mas só queria esclarecer por que eu considero essa prática um tanto distante do que a Bíblia parece ensinar.

Dito isso, não sei até que ponto será produtivo “investigar” o que está acontecendo. Talvez o foco de sua visita deva ser de oferecer a sua prima a graça, misericórdia e bondade que talvez ela não esteja recebendo, de mostrar para ela que Deus está de braços abertos para acolhê-la a qualquer momento.

E continue a orar e pedir muuuuita sabedoria para navegar nessas águas turbulentas de questões familiares. Só Deus pode lhe mostrar até que ponto você pode servir a seus familiares e abençoá-los sem interferir indevidamente ou assumir sobre si responsabilidades que não lhe cabem. Pergunte para ele 🙂
Até a próxima!

Kisses,

Su

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