Pergunta:

Oiee Su! Agradeço muito pelas suas respostas e saiba que fiquei super interessada nos livros. Se tem uma coisa que me atrai é mostrar para as pessoas o quanto Deus é amoroso e seus ensinamentos sábios e bonitos, além de reconfortantes. Deve ser muito legal trabalhar com algo que vai transformando nosso interior. Sobre a pergunta anterior, restou uma dúvida. Em Deuteronômio 22. 20-21 o problema que encontrei é que a mulher teve relações com algum homem. Por que somente ela morreria e não o homem com quem ela ficou? Não digo no caso de traição, mas de perda da virgindade antes do casamento. E nesse mesmo livro tenho mais uma dúvida, para a qual não encontrei uma resposta muito clara. 23.2,3,4,5 e 6, não entendo muito bem a ideia de dez gerações, afinal, os descendentes não tem culpa. Recentemente li uma resposta aqui sobre as maldições que afetavam as gerações vivas, e achei isso muito impactante, não sabia. Mas nesse caso, são dez gerações, então nem todos podem estar vivos. Por fim, Rute era moabita. Okay, ela foi para Belém na época dos juízes, quando tudo estava meio bagunçado, mas Deus a aceitou. E em Atos 10.34, Cornélio se dá conta de que Deus não distingue as pessoas, mas como os judeus saberiam disso se em Atos 10.28 mostra que eles acreditavam que não deviam ser nem amigos nem permitir a entrada de estrangeiros na própria casa? Então eu fico pensando: por que Deus proibiu certas coisas se depois ia permiti-las? Beijos e abraços, vou tentar escrever mais duas vezes esse mês! D.

Resposta da Sú:

Hello, D.! Que bom que você se interessou pelos livros. São leituras que valem a pena!

Vamos às respostas:

1 – Sobre Deuteronômio 22.20-21, é só você continuar lendo. O versículo 22 diz o que acontece ao homem que se deita com a mulher de outro: ele também deve ser morto. É bom lembrar que esse trecho todo está falando de moças noivas. No Antigo Testamento, o noivado era tão sério quanto o casamento em termos de compromisso. O casamento era só a mudança de residência e a consumação física/sexual da relação que já estava presente no noivado, daí a moça noiva já ser considerada “esposa/mulher” de outro e aplicarem-se as mesmas penalidades que se ela fosse efetivamente casada. Como explique anteriormente, se o espírito da lei fosse aplicado corretamente, não deixava espaço para desigualdade e injustiça dentro daquele contexto histórico e cultural.

2 – Antes de falar de Deuteronômio 23.2ss, é importante esclarecer que, ao tratar da questão das três gerações em outra resposta, não falei de maldições, mas de consequências. Essa é uma distinção importante. Deus não “amaldiçoa” as gerações ao redor de uma pessoa que peca. As consequências desse pecado são sentidas pelas gerações envolvidas, sejam elas quantas forem. A Bíblia fala de três gerações para representar aqueles que, mais comumente conviviam em família (avós, filhos, netos). Não é maldição literal e não é geração literal.

3 – Isso é importante para Deuteronômio 23.2ss, pois “dez gerações” também não é literal. É apenas uma forma de dizer, “por um bom tempo”. Além disso, é preciso entender o que era a “assembleia do Senhor”.

Primeiro, Deus escolheu Israel para ser seu povo não com a intenção de excluir outros. Pelo contrário, o objetivo era que Israel tivesse um relacionamento tão próximo com Deus que, por meio dos israelitas, outros conheceriam o Senhor e se tornariam parte de seu povo. Uma vez que Deus é santo, o povo também teria de se separar de idolatria e outras coisas contrárias ao caráter perfeito de Deus (com o propósito de evangelizar e incluir outros, e não de se isolar). Deus disse que por meio de Abraão (isto é, dos israelitas) “todas as nações da terra serão abençoadas” (Gn 18.18). A única forma de ser verdadeiramente abençoado, é tornar-se parte do povo de Deus. Essa era a intenção de Deus – que pessoas de todos os povos, de todas as camadas sociais, com ou sem limitações físicas/emocionais/mentais, se achegassem a ele. Infelizmente, Israel falhou nessa missão. Mas, Jesus a cumpriu e nós, como igreja, temos o privilégio/a responsabilidade de dar continuidade a ela.

Segundo, precisamos entender o que era a “assembleia do Senhor” em Deuteronômio 23 e várias outras passagens. Algumas versões trazem “povo de Deus”, mas essa não é uma boa tradução. A assembleia era constituída dos homens (numa sociedade patriarcal) com direito de tomar decisões, participar de atividades cultuais e servir o exército de Israel. Os casos mencionados em Deuteronômio 23 não deviam ser excluídos e marginalizados do povo, mas apenas não podiam participar desse grupo específico. Naquele contexto era uma forma de expressar a santidade e perfeição de Deus. Mas, qualquer um que declarasse fé em Deus devia ser acolhido no povo de Deus.

Terceiro, quando Jesus veio, os símbolos do passado se tornaram desnecessário. Não era mais preciso manter o mesmo tipo de separação para refletir santidade  e dar testemunho. As realidades que os rituais, as leis e os sacrifícios prefiguravam e para a qual apontavam, haviam se concretizado em Cristo. Portanto, todas as divisões entre judeus e gentios, homens e mulheres, escravos e senhores, etc. foram abolidas em Cristo de uma vez por todas (veja Gálatas 3.28). A Carta aos Hebreus trata em detalhes dessa relação entre antiga e nova aliança, das mudanças que Jesus trouxe e do motivo para elas. Quem sabe é um bom livro para você estudar?

O episódio de Cornélio é emblemático nesse sentido. Deus mostrou para Pedro essas mudanças que estavam acontecendo, explicou isso pra ele na visão do lençol (assim como mostrou para Paulo que a divisão não era mais necessária) e o instruiu a interagir com Cornélio como um igual, um irmão em Cristo.

Enfim, esse é um assunto longo e complexo em seus detalhes, mas espero que você tenha captado as linhas gerais J

Aguardo as próximas perguntas!

Kisses,

Su

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