Pergunta:

Oiê Su! Muuuuito obrigada pela resposta anterior. Eu não sabia sobre a pílula do dia seguinte não ser abortiva. No final, deixo o link que citei. Tenho duas dúvidas importantes, mas vou enviar a outra na próxima semana. Hoje eu gostaria muito de alguns esclarecimentos quanto ao grupo LGBTQIA+. 1. Essas pessoas existem, fazem parte da sociedade e são importantes. Para elas, a representatividade é algo muito significativo. Eu, como negra e mulher, entendo o quanto isso é grandioso para eles pois também gosto muito de me ver representada, dá uma inspiração gigantesca! Gosto bastante de escrever e um dia quero publicar um livro, mas me pergunto: devo colocar personagens desse grupo lá? Sem fazer julgamento moral, posso apenas colocá-los vivendo suas vidas, felizes e satisfeitos? Pois essa é a realidade de muitos. Não sei com exatidão o que Deus pensaria se eu fizesse algo assim. 2. Algumas pessoas que sigo no Instagram são gays, vi, etc. e simpatizantes. Em algumas de suas artes eles deixam isso explícito, se orgulhando desse fato. Suponhamos que o desenho de um personagem homoafetivo seja feito, aí na legenda a pessoa coloca um texto sobre isso, sobre se sentir representada ou se orgulhar. Eu gostei do desenho e entendi o ponto de vista dela (mesmo não concordando), mas me sinto incomodada em curtir, porque curtir algo soa como uma aprovação do todo. Se eu curtisse seria errado? 3. Eu sei que vou estar errada agora, mas gostaria muito de um esclarecimento. Penso nisso há muito tempo e acredito que você possa me responder, Su :) Quando Deus fez o homem e a mulher disse para se multiplicarem. Não disse que todos deveriam fazer isso, não disse que todos deveriam casar, não disse que o homem deveria necessariamente se relacionar com uma mulher, sem poder se relacionar com outro homem. Depois vieram as leis, mas havia coisas que eram permitidas antes das leis, como o casamento entre parentes. Você conseguiu entender meu ponto de vista? E se a gente estiver interpretando mal? E se essas proibições forem coisas do passado ou para um momento específico? E se não for errado alguém pertencer ao LGBT+ ? Aqui está o link. Minha resposta para a moça está nos comentários. Obrigada por sua atenção! Abraços! D.

Resposta da Sú:

Hello, D.! Começando do final, muito obrigada por enviar o link. Assisti ao vídeo e vi os comentários. É sempre ótimo quando dá para ter uma troca respeitosa de opiniões 🙂

Sobre suas três perguntas, demorei para responder porque esse é um assunto muuuuito complexo e queria pensar com calma sobre o que dizer, mesmo porque, por vezes, vejo-me questionando alguns dos mesmos itens que você levanta. Vou dividir com você o que refleti até agora, para pensarmos juntas.

Nosso ponto de partida precisa ser a Bíblia e aquilo que ela diz (ou mostra nas entrelinhas) sobre qualquer assunto, o que inclui questões de gênero, sexualidade e casamento. Não podemos olhar para o mundo ao redor e depois tentar ajustar nossa interpretação da Bíblia à presente realidade. Precisamos estudar atentamente a Bíblia e, então, avaliar a realidade pelas lentes da verdade de Deus.

A Bíblia não diz com todas as letras “existem dois gêneros, e só dois gêneros, e o casamento é só entre um homem e uma mulher”. Da mesma forma, a Bíblia também não diz “não tenham preconceito racial” ou “não destruam o meio-ambiente”. Isso significa, então, que podemos ser racistas e desmatar a Amazônia? Claro que não! kkk

Embora a Bíblia não diga muitas coisas explicitamente, aquilo que ela nos apresenta nos permite fazer algumas inferências claras.

Por exemplo: somos todos criados à imagem de Deus (Gn 1.26-27), o que nos confere dignidade e valor intrínsecos, independentes de raça, gênero ou qualquer outra coisa. A ideia de que cristãos não podem de jeito nenhum ser racistas, vem primeiramente daí (há várias outras passagens, inclusive no NT, mas para esta discussão vamos nos concentrar na origem de conceitos em Gênesis, ok?). Outro exemplo: quando Deus criou o Senhor humano, colocou-o no jardim “para cuidar dele e cultivá-lo” (Gn 2.15). Cuidar e cultivar implica administrar, usar os recursos com sabedoria e com respeito, compaixão e comedimento – sem cobiça, sem ganância, sem crueldade. Temos aqui, portanto, o princípio de que cristãos devem ter profundo respeito e preocupação por todos os aspectos da criação (recursos naturais, animais, etc.).

Agora, o ponto relevante para suas dúvidas. Quando a Bíblia relata a criação dos seres humanos, diz claramente que Deus criou dois gêneros e que ele escolheu o gênero de cada um. Não criou um ser neutro e depois disse: “O que você gostaria de ser?”. E, quando criou Eva, também não perguntou a Adão: “Você prefere alguém exatamente igual a você?”.

O fato de Deus não nos dar escolha em relação a nosso gênero pode parecer limitante, mas na verdade é algo muito bom, pois faz parte do plano maior dele para se revelar a suas criaturas. Cada um dos gêneros reflete aspectos diferentes de quem Deus é e, em certos sentidos, complementa o outro gênero. Um homem não precisa de uma mulher para ser “pleno”, e vice-versa, mas quando há uma união entre eles, a combinação de “plenitudes” reflete Deus e aponta para ele de uma forma que não acontece na união de dois homens ou de duas mulheres. Vemos isso em Gênesis 2.19-25. O casamento como união entre um homem e uma mulher, portanto, foi estabelecido lá no comecinho, muito antes da lei. Se você ler essa passagem com a ajuda do Espírito Santo (e não com os óculos da cultura atual), verá que Deus estabeleceu alguns limites bem claros em relação a gênero e casamento.

Portanto, embora nem todos precisem ou devam se casar (e ter filhos), a Bíblia mostra que, quando duas pessoas escolhem se casar, devem fazer isso de acordo com o que Deus definiu para elas.

É bom lembrar, ainda, que a revelação de Deus ao longo da Bíblia é progressiva. Deus não declarou explicitamente todos os detalhes de sua vontade para o ser humano de uma vez só. As coisas mais básicas estão lá no comecinho de Gênesis, como acabamos de ver. Outro exemplo: a lei de Deus diz que não se deve cometer homicídio, mas o “não matarás” aparece muitos séculos depois da criação da humanidade. Quer dizer que, antes disso, homicídio estava liberado? Olhe para a história de Caim e Abel. Quando Caim matou Abel, o próprio Caim sabia que estava errado, pois Deus conversou com ele, e seu ato teve sérias consequências (veja Gn 4). Portanto, só porque as leis sobre homossexualidade vieram mais tarde, não significa que tudo estava liberado antes disso.

Uma vez que entendemos que o ideal de Deus é para apenas dois gêneros, que ele determina o gênero de cada um e que o casamento é entre um homem e uma mulher, como devemos nos posicionar em relação àqueles que fogem desse ideal? Da mesma forma que nos posicionamos em relação a qualquer ser humano amado por Deus, infinitamente precioso e digno, quando ele foge do ideal de Deus em qualquer área de sua vida (o que inclui nós mesmos). Precisamos buscar ajuda de Deus para fazer uma separação clara entre pessoa/identidade e escolhas/atitudes/ações.

Uma coisa que gera muitas dificuldades nas interações com o movimento LGBTQIA+ é a mistura dessas ideias. Para começar, quem é LGBTQIA+ pensa que gênero é uma escolha (já vimos que não é). Em segundo lugar, pensa que suas opções sexuais e sua identidade são uma coisa só. Ser gay tem uma porção de implicações para a vida, mas não muda a essência da pessoa. É possível, por exemplo, um cristão com propensões homossexuais escolher não viver de acordo com essas propensões (optar pelo celibato). Isso não vai mudar quem ele é em sua essência: filho criado, amado, salvo por Deus.

Terceiro, a Bíblia diz que as escolhas que a turma LGBTQIA+ faz fogem do ideal de Deus. Isso quer dizer que não podemos apoiar as escolhas/o estilo de vida. Mas podemos e devemos apoiar e valorizar as pessoas como portadoras da imagem de Deus, amadas por ele.

É um caminho beeem difícil de trilhar, pois como a maioria não faz distinção entre identidade e estilo de vida, se discordamos do estilo de vida, é como se estivéssemos rejeitando a pessoa. A maioria LGBTQIA+ não aceita ser afirmada apenas como pessoa. Também quer que a gente concorde com suas escolhas. É meio como eu dizer para você: se você não vota no mesmo candidato que eu, então você me odeia. Aí, morreu o diálogo, né?

No caso do Instagram, que você propôs, se alguém postar uma arte celebrando a homossexualidade, você pode comentar: “Eu admiro seu talento e a beleza que ele produz”. É uma forma de expressar uma coisa boa que Deus concedeu para a pessoa sem celebrar um estilo de vida que foge do plano de Deus.

Nossas interações com LGBTQIA+ devem ser de amor, respeito pela dignidade como pessoa, disposição de nos relacionar, mas não de afirmação e apoio a suas escolhas. É meio que uma “ginástica”, daquelas que a gente só consegue fazer com a ajuda de Deus 🙂

Por fim, quanto a personagens desse tipo em uma história, você vai precisar tratá-los como trataria qualquer outro personagem que escolhe não viver de acordo com os princípios definidos por Deus. Em última análise, não existem, por exemplo, casais gays verdadeira e supremamente felizes. Eles podem experimentar afeto, aceitação e uma medida de alegria aqui nesta vida e podem ser pessoas éticas que fazem o bem a outros. Mas, como qualquer outra pessoa que rejeita os padrões de Deus, isso tem consequências sérias e, dependendo do caso, eternas.

E, para terminar (ufa!), é extremamente importante fazer distinção entre o que você disse sobre ser mulher e negra e sobre ser LGBTQIA+. São duas coisas diferentes. Seu gênero, sua cor e todas as suas outras características foram dados por Deus para refletir quem ELE é de uma forma que ninguém mais poderá fazer. É apropriado que você seja representada e apoiada para usar essas características para a glória de Deus. Todos da turma LGBTQIA+ merecem ser representados como seres humanos de valor inestimável no mundo e na sociedade (sou a favor de que continuem a ser criadas legislações para garantir seu bem-estar). Mas, como já vimos repetidamente, isso não é o mesmo que defendermos suas escolhas, pois elas não refletem quem Deus é. De novo, entra em cena a distinção entre pessoa e estilo de vida!

Eu sei que essa resposta ficou absurdamente longa, kkk. E ainda teria muito mais coisa para conversarmos sobre esses assuntos. Pense com calma e, se algum ponto não ficou claro, volte para tratarmos mais detalhadamente desses aspectos específicos.

Paz de Cristo para você, e até a próxima!

Kisses,

Su