Pergunta:

Oi Su, na sua opinião, os pais (principalmente os cristãos) tratam a questão da sexualidade dos filhos de forma muito errada, e às vezes até meio “surtada”, por assim dizer?
Entendo que o sexo é para ser vivido dentro do casamento. Mas na minha opinião acho que uma coisa ignorada, é que resistir a tentação do sexo, não é só uma questão espiritual. Já que nós somos “seres sexuais”, e nossos hormônios gritam pedindo por isso. E tipo, antigamente as pessoas casavam super cedo, então é óbvio que todo adolescente sente atração sexual, a diferença é que hoje em dia já entendemos que casar cedo não é recomendado. Então as pessoas tratam como se fosse uma coisa super espiritual resistir ao sexo. Mas na verdade é tentar resistir a natureza/instintos que nós fomos criados assim. E eu vejo alguns pais tratando de uma maneira tão absurda isso. Tipo, a minha líder da igreja tem um filho, que é da igreja, mas não é tão firme. Daí ele arranjou uma namorada que não é da igreja sabe. E minha líder fica extremamente incomodada em deixar os dois sozinhos, porque ela tem medo q os dois façam sexo. O problema é que: eles vão fazer, mesmo que não seja no quarto dele. E fora que ela passa mal com isso, a pressão dela sobe e ela ainda fala q o filho dela vai matar ela. E assim, ela é uma pessoa incrível, mas eu acho “surto” demais chegar no ponto de passar mal por imagina q o filho tá tendo relação sexual. E eu sei q pode gerar uma gravidez se não tiver cuidado, e isso é realmente preocupante ainda mais na juventude. Mas se preocupar com aquilo em si, eu acho muito estranho. Também me dá muita indignação pais que param de falar com os filhos, que mandam pra casa de outras pessoas, pq isso vai mudar no que? Eu não entendo esse tipo de punição. E o pior é q obviamente isso é sempre pra o lado das mulheres! Porque boa parte dos meninos na igreja nem virgem são, mas quando a mulher não é virgem é um total absurdo, tratam como se ela fosse uma impura.
Enfim, como eu disse, eu entendo q o ideal é viver o sexo dentro do casamento. Mas acho q o sexo fora do casamento é tratado de forma muito punitiva, e com punições sem sentido. Quando eu acho q deveria apenas existir uma orientação antes e depois. Tipo, orientar que é ideal fazer sexo só depois do casamento. Mas também orientar sobre métodos de prevenção de doenças e gravidez. E se por acaso a pessoa fizer, não punir ela, afinal sexo faz parte da natureza. E também não faz sentido tratar como fim do mundo. É só orientar quanto a importância de conversar com Deus sobre o ocorrido e deixar q a pessoa faça as próprias escolhas.
Eu acho um absurdo os pais que tratam relação e perda de virgindade como fim do mundo.  / Ah eu queria fazer algumas observações da pergunta anterior.
O q vc acha sobre a maioria dos cristãos serem contra educação sexual? Porque tipo, quando se fala de discutir isso na escola, eles acham um absurdo. Não entendem a importância de orientar sobre métodos pra evitar gravidez e doença. Acham q estão pervertendo a cabeça de jovens e adolescentes. E eu acho isso um absurdo gigantesco, porque todo jovem cristão pensa em sexo e sente vontade de ter relações sexuais. Só que com esse tabu sobre a educação sexual, o que mais acontece são jovens grávidas antes do casamento, tendo que casar as pressas. Ou seja, isso mostra que de qualquer forma se o jovem quiser ter relações, ele vai ter. Só que se tivesse uma educação sexual acerca disso, poderia evitar muita gravidez acidental. Gravidez que acontece com muitos casais jovens, sem preparo emocional, sem preparo financeiro. O que só gera problemas pra os pais e as crianças.
Ah também falei da questão da virgindade ser muito mais cobrada entre as mulheres. Bom eu tenho uma amiga que casou cedo, e uma das coisas que ela ama citar para pessoas mais jovens é sobre como ela casou virgem. Ela e o atual marido tiveram relação entre eles, só depois do casamento. Porém, ele já não era mais virgem quando começou a namorar com ela. No período do namoro, infelizmente ela sofreu uma tentativa de abuso. Ela conversou com a pastora dela sobre isso, e a única preocupação dela era: se ela ainda era virgem. Assim, pelo o q ela contou, acredito q ela realmente permaneceu virgem. E aí ela afirmou pra minha amiga q ela ainda era virgem, pois o hímem não tinha rompido. Eu sei q k hímem nada tem a ver com isso, mas eu preferi não falar sobre isso com a minha amiga. Mas enfim, aí eu fiquei pensando, eu sei q o sonho dela era casar virgem e tudo mais. Só que tipo, ela sofreu uma coisa horrível, e a única preocupação dela era se ainda iria casar virgem. E eu sei q ninguém, nem eu, quer perder a virgindade desse jeito. Mas ela deveria era ter ido na polícia denunciar a pessoa. E eu fico triste, pensando q o peso da virgindade na mulher é tão grande, e tão maior q no homem, q diante de uma situação tão grande, minha amiga nem se preocupou com isso. Ela estava preocupada se iria casar virgem. E ela até disse q isso quase acabou cm o namoro dela, honestamente eu não entendi o motivo. Só q eu fiquei pensando se o marido dela teria reagido mal sobre isso, o q nem faria sentido até pq não foi escolha dela o q aconteceu e fora q ele nem era mais virgem. L.

Resposta da Sú:

Hello, L.! Como suas duas perguntas são sobre assuntos relacionados, coloquei ambas aqui.

Primeiramente, acho que muitos pais se preocupam tanto com a questão de sexo porque eles sabem (às vezes por experiência própria) o tamanho dos estragos que podem acontecer quando a gente vivencia nossa sexualidade prematuramente, sem a maturidade necessária. Eu entendo, por exemplo, que os pais de um(a) adolescente de 12 anos, não queiram o filho (ou a filha) inicie a vida sexual nessa idade. Nem a mente, nem o coração e nem o corpo estão preparados para isso! Infelizmente, o que nós temos visto é uma iniciação sexual em faixas etárias cada vez mais jovens, com crianças cada vez mais despreparadas. Então, imagino que isso assuste os pais e crie essa reação um tanto exagerada que você observou.

Dito isso, porém, acho que algumas de suas considerações são bem pertinentes, pois mostram alguns “furos” na mensagem que é passada continuamente para os jovens sobre sexo antes do casamento. Alguns pontos para pensarmos juntas:

1. Não importa o que digam por aí, sexo não é só uma função física. Foi criado por Deus para expressar de forma física uma profunda intimidade de alma. Por isso, fazer sexo para satisfazer um desejo físico é algo bem mais pobre do que aquilo que Deus planejou.

2. Concordo plenamente que Deus nos criou com desejos e impulsos sexuais bons e saudáveis, para nosso prazer físico, mental e emocional. Isso não significa, porém, que a gente precisa ceder a todos os impulsos quando eles surgem. Acredite ou não, impulsos sexuais são controláveis, kkk. Mais sobre isso adiante.

3. Minha opinião é que a gente não deve estimular desejos que não pretende atender de imediato. Portanto, se alguém acha importante casar virgem, não faz sentido recorrer a pornografia, amassos mil, sexo oral, anal, etc. Mesmo porque, como você observou muito acertadamente, virgindade não é questão de hímen intacto.

4. Voltando ao item 1, o ideal é que a que a intimidade física acompanhe as outras formas de intimidade (intelectual, emocional) e a maturidade e o compromisso dentro de um relacionamento, para que não fique uma coisa desequilibrada, que causa sofrimento desnecessário. E, em última análise, isso não tem a ver simplesmente com ser casado ou não. Tem muita gente tendo sexo dentro do casamento sem qualquer outro tipo de intimidade, o que é igualmente “pobre”. A meu ver, portanto, casamento não é obrigatoriamente a linha divisória nessa história. Precisa levar muitas outras coisas em conta.

5. Okay. Até aqui, falamos do ideal. Ele não é irreal e não é impossível, mas depende de vários fatores, como seu nível de intimidade com Deus, o ambiente em que você vive, as decisões que você toma, as amizades que você cultiva, o tipo de apoio (ou falta de) que você recebe de sua família e de sua comunidade de fé. Por aí, já dá para perceber que o ideal não é impossível, mas é difícil pra caramba! Diante disso, a gente também precisa lidar com o real.

6. E a realidade é que todos os adolescentes e jovens, não importa o gênero ou as decisões eles tomem sobre casar virgem ou não, precisam de uma boa educação sexual. A meu ver, isso não deveria ser só papel da família e da escola, mas também da igreja. Em vez de simplesmente proibir tudo antes do casamento, a gente deveria estar instruindo nossos adolescentes para que, diante de Deus, pela graça divina, eles tomem decisões sábias e informadas. E também para que, se eles decidirem ter sexo, façam isso de forma que “contenha os possíveis estragos” (gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis são apenas dois exemplos).

7. Portanto, a meu ver, o papel de pais e líderes de igreja não é simplesmente dizer pode/não podee impor o ideal (e depois deixar que cada um se vire para alcançá-lo). Cabe aos adultos dar aos mais jovens informações importantes e necessárias para a decisão deles. Claro que essas informações também precisam estar de acordo com o nível de maturidade de cada um e precisam ser transmitidas junto com o compromisso dos adultos de apoiar os adolescentes em sua jornada e verdadeiramente ajudá-los a tomar boas decisões. Fácil? De jeito nenhum! Por isso muita gente prefere apenas o pode/não pode.

E é por isso que no meu blog eu tenho posts como este: https://depapocomasu.blog.br/sexo/2018/03/o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-pilula-do-dia-seguinte/

8. Ao longo de toda a história do mundo, Deus sempre apontou para os ideais dele, pois esses ideais são o caminho mais curto para cumprir os bons propósitos dele e evitar alguns sofrimentos. Mas, Deus também operou, com imenso amor, graça e misericórdia, no meio da realidade que fica aquém desse ideal. Deus usa pessoas, famílias e situações imperfeitas e bagunçadas para cumprir os planos dele. Deus não deixa de ser Deus porque alguém deixou de ser virgem antes de casar. E não deixar de amar ninguém por causa disso.

9. Portanto, concordo com você que há um foco exagerado sobre a virgindade, como se essa fosse a única coisa que define nossa pureza e nosso compromisso com Deus. Todo mundo toma decisões que talvez não sejam ideais. Todo mundo acaba cedendo, em algum momento, a este ou aquele desejo fora de hora. E não estou falando só de sexo. Isso se aplica a tudo. Portanto, em vez de pensar em uma vida sexual dirigida por Deus, a gente precisa em uma vida inteira debaixo da direção dele, e precisa entender que ninguém vive de modo saudável e equilibrado só com força de vontade, sem forças do Espírito Santo.

10. E, por fim, digo amém para sua observação de que essas questões devem tocar meninas e meninos. Não podemos ter dois pesos e duas medidas. Não podemos achar que é responsabilidade das meninas ser “freio” para os desejos dos meninos (como se as meninas não tivessem desejos também!) e não podemos achar que o valor de uma mulher está ligado a seu hímen. Pensar dessa forma está completamente fora dos padrões de Deus! (Veja este post sobre isso: https://depapocomasu.blog.br/sexo/2018/05/voce-nao-e-freio-de-ninguem/).

A forma que essa questão é apresentada em muitos meios evangélicos tem sido motivo de dor, humilhação, culpa e trauma para muitas meninas e mulheres, e a gente precisa, sim, conversar abertamente sobre essas questões. Muitos casos de abuso passam batidos, sem que se tomem as devidas providências. E isso, diante de Deus, é inaceitável!

Portanto, amiga, oremos sobre essas questões. Peçamos muuuuita sabedoria divina e façamos o que Deus colocar ao nosso alcance para cumprir os bons propósitos dele nessa área. O relacionamento com Deus deve ser o nosso referencial. A intimidade com Deus deve nortear todas as outras intimidades. Só então, poderemos tomar boas decisões sobre comportamento.

Kisses,
Su

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