Hello, L.! Como suas duas perguntas são sobre assuntos relacionados, coloquei ambas aqui.
Primeiramente, acho que muitos pais se preocupam tanto com a questão de sexo porque eles sabem (às vezes por experiência própria) o tamanho dos estragos que podem acontecer quando a gente vivencia nossa sexualidade prematuramente, sem a maturidade necessária. Eu entendo, por exemplo, que os pais de um(a) adolescente de 12 anos, não queiram o filho (ou a filha) inicie a vida sexual nessa idade. Nem a mente, nem o coração e nem o corpo estão preparados para isso! Infelizmente, o que nós temos visto é uma iniciação sexual em faixas etárias cada vez mais jovens, com crianças cada vez mais despreparadas. Então, imagino que isso assuste os pais e crie essa reação um tanto exagerada que você observou.
Dito isso, porém, acho que algumas de suas considerações são bem pertinentes, pois mostram alguns “furos” na mensagem que é passada continuamente para os jovens sobre sexo antes do casamento. Alguns pontos para pensarmos juntas:
1. Não importa o que digam por aí, sexo não é só uma função física. Foi criado por Deus para expressar de forma física uma profunda intimidade de alma. Por isso, fazer sexo para satisfazer um desejo físico é algo bem mais pobre do que aquilo que Deus planejou.
2. Concordo plenamente que Deus nos criou com desejos e impulsos sexuais bons e saudáveis, para nosso prazer físico, mental e emocional. Isso não significa, porém, que a gente precisa ceder a todos os impulsos quando eles surgem. Acredite ou não, impulsos sexuais são controláveis, kkk. Mais sobre isso adiante.
3. Minha opinião é que a gente não deve estimular desejos que não pretende atender de imediato. Portanto, se alguém acha importante casar virgem, não faz sentido recorrer a pornografia, amassos mil, sexo oral, anal, etc. Mesmo porque, como você observou muito acertadamente, virgindade não é questão de hímen intacto.
4. Voltando ao item 1, o ideal é que a que a intimidade física acompanhe as outras formas de intimidade (intelectual, emocional) e a maturidade e o compromisso dentro de um relacionamento, para que não fique uma coisa desequilibrada, que causa sofrimento desnecessário. E, em última análise, isso não tem a ver simplesmente com ser casado ou não. Tem muita gente tendo sexo dentro do casamento sem qualquer outro tipo de intimidade, o que é igualmente “pobre”. A meu ver, portanto, casamento não é obrigatoriamente a linha divisória nessa história. Precisa levar muitas outras coisas em conta.
5. Okay. Até aqui, falamos do ideal. Ele não é irreal e não é impossível, mas depende de vários fatores, como seu nível de intimidade com Deus, o ambiente em que você vive, as decisões que você toma, as amizades que você cultiva, o tipo de apoio (ou falta de) que você recebe de sua família e de sua comunidade de fé. Por aí, já dá para perceber que o ideal não é impossível, mas é difícil pra caramba! Diante disso, a gente também precisa lidar com o real.
6. E a realidade é que todos os adolescentes e jovens, não importa o gênero ou as decisões eles tomem sobre casar virgem ou não, precisam de uma boa educação sexual. A meu ver, isso não deveria ser só papel da família e da escola, mas também da igreja. Em vez de simplesmente proibir tudo antes do casamento, a gente deveria estar instruindo nossos adolescentes para que, diante de Deus, pela graça divina, eles tomem decisões sábias e informadas. E também para que, se eles decidirem ter sexo, façam isso de forma que “contenha os possíveis estragos” (gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis são apenas dois exemplos).
7. Portanto, a meu ver, o papel de pais e líderes de igreja não é simplesmente dizer pode/não podee impor o ideal (e depois deixar que cada um se vire para alcançá-lo). Cabe aos adultos dar aos mais jovens informações importantes e necessárias para a decisão deles. Claro que essas informações também precisam estar de acordo com o nível de maturidade de cada um e precisam ser transmitidas junto com o compromisso dos adultos de apoiar os adolescentes em sua jornada e verdadeiramente ajudá-los a tomar boas decisões. Fácil? De jeito nenhum! Por isso muita gente prefere apenas o pode/não pode.
E é por isso que no meu blog eu tenho posts como este: https://depapocomasu.blog.br/sexo/2018/03/o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-pilula-do-dia-seguinte/
8. Ao longo de toda a história do mundo, Deus sempre apontou para os ideais dele, pois esses ideais são o caminho mais curto para cumprir os bons propósitos dele e evitar alguns sofrimentos. Mas, Deus também operou, com imenso amor, graça e misericórdia, no meio da realidade que fica aquém desse ideal. Deus usa pessoas, famílias e situações imperfeitas e bagunçadas para cumprir os planos dele. Deus não deixa de ser Deus porque alguém deixou de ser virgem antes de casar. E não deixar de amar ninguém por causa disso.
9. Portanto, concordo com você que há um foco exagerado sobre a virgindade, como se essa fosse a única coisa que define nossa pureza e nosso compromisso com Deus. Todo mundo toma decisões que talvez não sejam ideais. Todo mundo acaba cedendo, em algum momento, a este ou aquele desejo fora de hora. E não estou falando só de sexo. Isso se aplica a tudo. Portanto, em vez de pensar só em uma vida sexual dirigida por Deus, a gente precisa em uma vida inteira debaixo da direção dele, e precisa entender que ninguém vive de modo saudável e equilibrado só com força de vontade, sem forças do Espírito Santo.
10. E, por fim, digo amém para sua observação de que essas questões devem tocar meninas e meninos. Não podemos ter dois pesos e duas medidas. Não podemos achar que é responsabilidade das meninas ser “freio” para os desejos dos meninos (como se as meninas não tivessem desejos também!) e não podemos achar que o valor de uma mulher está ligado a seu hímen. Pensar dessa forma está completamente fora dos padrões de Deus! (Veja este post sobre isso: https://depapocomasu.blog.br/sexo/2018/05/voce-nao-e-freio-de-ninguem/).
A forma que essa questão é apresentada em muitos meios evangélicos tem sido motivo de dor, humilhação, culpa e trauma para muitas meninas e mulheres, e a gente precisa, sim, conversar abertamente sobre essas questões. Muitos casos de abuso passam batidos, sem que se tomem as devidas providências. E isso, diante de Deus, é inaceitável!
Portanto, amiga, oremos sobre essas questões. Peçamos muuuuita sabedoria divina e façamos o que Deus colocar ao nosso alcance para cumprir os bons propósitos dele nessa área. O relacionamento com Deus deve ser o nosso referencial. A intimidade com Deus deve nortear todas as outras intimidades. Só então, poderemos tomar boas decisões sobre comportamento.
Kisses,
Su