Pergunta:

Oi Su! Eu tinha certeza que o seu blog estava com algum problema técnico, porque você sempre responde, né? Vou mandar de novo.
Oi Su, deixa eu te fazer uma pergunta. Estava rolando uma discussão lá com o pessoal da minha igreja sobre a forma como os pais devem disciplinar os filhos. Tudo começou porque eu estou namorando um menino que não é da igreja e que acha que a minha mãe me castiga demais, que eu devia ser mais independente e talz, e eu respondi para ele que a bíblia manda os pais devem disciplinar os filhos, e o papo rolou. Eu li que a bíblia manda os pais usar a vara da correção, mas achei isso uma linguagem muito antiga. Umas colegas disseram que agora é proibido por lei, e outras disseram que apanham de vez em quando e é normal. Aí eu lembrei de um caso de uma colega minha de escola que eu presenciei. Ela tinha perdido a virgindade e a mãe ficou sem falar com ela. Eu entendi que a mãe ficou muito zangada porque não foi pela boca da filha que ela soube, mas achei ficar tanto tempo sem falar com a menina meio exagero. Aí um dia ela chegou para a mãe e pediu para ela acabar com aquilo, que ela não estava aguentando mais a situação. A mãe olhou para ela e disse: então vai lá fora cortar uma vara. A menina foi e trouxe a vara, e parecia bem calma. Aí as duas foram para dentro, e eu e umas amigas ficamos escutando a surra. Até achamos graça porque no início ela estava corajosa, mas depois foi ficando com medo e gritou um bocado pedindo para a mãe parar. Foi uma surra bem dada, a menina ficou meio pê, mas no dia seguinte ela e a mãe voltaram a se falar, e tudo ficou de boa.
Aí eu fiquei pensando, se não fosse a surra, não tinha quebrado aquela situação, e se a bíblia manda os pais baterem, então é certo, desde que seja do jeito que a bíblia manda. Mas eu achei a linguagem meio antiga, e fiquei com dúvidas. Só pode ser com vara ou pode bater com outra coisa que não seja pesada? Só pode bater nas costas? Se fosse você, como você faria? G.

Resposta da Sú:

Hello, G.! De fato, tivemos problemas técnicos e eu não recebi a sua pergunta. Mas, fiquei feliz que você enviou de novo!

Primeiro, quanto à questão da disciplina física de modo geral, ela é proibida pela lei do nosso país e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Só isso já é motivo suficiente para ninguém recorrer a esse tipo de castigo. Afinal, como cristãos, somos chamados a obedecer a lei de nosso país.

Além disso, precisamos entender bem a passagem da Bíblia que você menciona, Provérbios 13.24 (que, na Nova Versão Transformadora, diz: “Quem não corrige os filhos mostra que não os ama; quem ama os filhos se preocupa em discipliná-los”).

É preciso compreender a ideia do texto, em vez de se apegar a uma palavra específica. Versões mais recentes da Bíblia (como a NVT que eu citei acima) nem sequer trazem o termo “vara”. No tempo em que Provérbios foi escrito (muitos séculos atrás), a disciplina física era o modo mais usado para corrigir os filhos. Portanto, a “vara” é um símbolo disciplina/correção.

Alguns cristãos, que interpretam essa passagem ao pé da letra, dizem que os pais precisam ter uma vara de madeira em casa e usá-la para disciplinar os filhos, mesmo que isso seja contra a lei do nosso país, pois a lei de Deus tem precedência sobre a lei dos homens.

Outros cristãos, porém, preferem seguir a ideia por trás da palavra e consideram que é extremamente importante os pais disciplinarem os filhos, aplicarem castigos e consequências, mas que não precisam ser punições físicas. Esses cristãos não veem, portanto, conflito entre a lei de Deus, em que a disciplina é sinal de amor, e a lei dos homens, que tem por objetivo evitar abuso físico de crianças.

A meu ver, o castigo físico é desnecessário e não produz resultados melhores do que outras formas de disciplina. A aplicação de consequências quando há desobediência/rebeldia precisa começar cedo e ser adaptada para cada faixa etária, o que inclui a adolescência (p. ex., tirar um brinquedo de uma criança, tirar o celular de um adolescente, sempre por um período específico).

E, quanto ao caso da sua amiga, em minha opinião, o problema todo começou quando a mãe parou de falar com a menina. Isso não se faz! Os pais têm direito de ficar chateados e decepcionados com os filhos e têm direito de discipliná-los de modo correto (sem recorrer a violência). Mas, os pais não têm direito de fazer greve de silêncio com os filhos. O que deveria ter acontecido nessa situação era a mãe ter explicado que havia ficado muuuuito brava e triste com o que a filha tinha feito e, depois, ter conversado direito– perguntado o que exatamente havia acontecido, se havia risco de a menina estar grávida ou ter alguma infecção sexualmente transmissível, como estava o pensamento da filha depois dessa experiência sexual. Se a mãe não queria que a menina continuasse a ter relações sexuais, poderia ter combinado com a filha como as coisas seriam dali para frente, etc. E a filha, nesse diálogo, teria assumido responsabilidade, pedido perdão, etc., Em resumo: diálogo com amor. Se foi preciso a mãe cometer violência contra a filha para se sentir melhor e as duas voltarem a conversar, é sinal de que esse não era um relacionamento saudável. Esse não é o caminho!

Claro que os pais precisam orientar e disciplinar os filhos – isso é importante para o processo de amadurecimento. A gente precisa entender que nossas decisões têm consequências. Mas, como eu disse acima, a interpretação da Bíblia não precisa ser literal. Cada família deve buscar muita sabedoria de Deus para encontrar maneiras corretas e justas de educar os filhos para o bem, e não com medo de castigo, violência, silêncio, rejeição. Afinal, Deus – nosso Pai/nossa Mãe perfeito(a) – não nos trata desse jeito. Ele nos disciplina e nos orienta, mas sempre com muito amor, para o nosso bem.

Kisses,

Su

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