Pergunta:

Oi Su! Espero que seu Natal tenha sido muito bom, apesar de não enviado mensagem antes, desejei isso no meu coração para Deus. Desde agora, já te falo que espero que você cresça muito no ano que está chegando, e que Deus abençoe você e sua família. Te agradeço pela resposta anterior, só queria esclarecer que eu estava falando de alguém que ama uma pessoa a muito tempo ( pelo menos 10 anos), mas não é mais do que uma amiga aos olhos desta. Isso também é afeto inicial? Também aproveito para falar que gosto bastante das suas respostas para as perguntas pessoais, acho muito interessantes e até inspiradoras! Su, a pessoa que eu gosto não gosta mais de mim. E meio que tudo bem, não há mais o que fazer da minha parte. Então, estou num sério processo de vê-lo apenas como amigo. Tem uma porção de sentimentos dentro de mim. Tento ordená-los em palavras, mas ficam confusos mesmo assim. Quero sua ajuda para trabalhar essas questões, estou animada porque estou crescendo, só que as vezes isso é bem doloroso. Se eu repetir as dúvidas, é só me avisar, pode acontecer, já que talvez eu não consiga explicar tudo direitinho. Então: ciúmes. Sei o que são, sei que advém de comparações que faço, sei que sou única para Deus e para as pessoas com quem me relaciono. Se racionalmente eu entendo, por que ainda sinto isso? Enquanto gostava dele, aconteceu quase ou praticamente o mesmo sofrimento de anos atrás quando tive meu primeiro amor: fiquei com medo de uma menina ideal chegar e “roubar” meu lugar no coração dele, roubar o afeto que era destinado a mim. É muito desesperador quando sinto isso, tipo, as vezes vejo uma menina bonita e penso “será que ele gostaria dela?” ou “Aposto que esse é o tipo de garota que ele gosta” ou acontece de eu achar que ele vai se apaixonar por uma meninas que tenha os mesmos interesses dele e o entenda e seja super demais, e eu… não seria nada. Mesmo que na vida real não seja assim, não é a primeira vez que esse tipo de pensamento me perturba, e quero profundamente mudar de uma vez por todas. Sei que a melhora não é linear, que pode acontecer de ter “recaídas” , mas desejo afatsar tais ideias e ficar bem, ao invés de ter medo de uma pessoa que nem sei se existe e que caso exista, bem…ela tem sua beleza e eu a minha. Tem mais uma coisa, duas. A primeira é meu medo de perder o amor das pessoas de fora da família por algo que fiz ou falei, mesmo que nem tenha sido algo errado, só um ponto de vista ou meu jeito de agir. Então, embora eu seja sincera e “eu mesma” acabo me sentindo amedrontada com isso, como se a pessoa fosse parar de gostar de mim de repente ou por uma série de fatores que não percebi. Costumo dar para aqueles cuja opinião me importa, a chance de falarem o que pensam de mim ou de determinada atitude, mas além de ser por medo, também é para poder melhorar se a crítica for construtiva, ou seja, tem dois lados. Por fim, se ele diz que me ama, mesmo que só como amiga, fico realmente muito feliz, mas com o passar dos dias, começo a duvidar, penso até que pode ter deixado de ser uma verdade para a pessoa as bonitas palavras que me disse. Você já passou por algo assim? Me entende? O que fazer quando eu compreendo as coisas, mas não consigo viver de acordo com elas? Tem coisas práticas? Pois conversar com Deus, depender dele e afirmar aquilo que é verdade tem sido tudo o que posso fazer. Beijos e até mais! (Desculpa o textão) D.

Resposta da Sú:

Hello, D.! Feliz Ano Novo! Muito obrigada por sua mensagem e seus votos. Graças a Deus, nossas comemorações por aqui foram super tranquilas. Espero que as suas também 🙂
Quanto à questão hipotética que você apresentou na outra pergunta, não sei entendi muito bem. Digamos que a X é apaixonada pelo Y há vários anos. Em algum momento desse período, o Y conhece a Z, começa a namorar e, por fim, se casa com ela. Durante todo esse processo, a X deve ter entendido que o Y não estava mais ao alcance dela e, portanto, que não era boa ideia ficar alimentando os sentimentos por ele. Logo, a menos que o Y tenha conhecido a Z num dia e se casado com ela no dia seguinte, a X teve tempo e oportunidade de procurar enfraquecer os vínculos afetivos que tinha com o Y (mesmo que fosse só um afeto platônico, à distância). Se a X escolheu se distanciar física e emocionalmente do Y ou não, é outra história, rsrs.

Quanto ao sentimento de ciúmes, ele geralmente é sinal de algumas coisas como (1) insegurança quanto ao lugar que você ocupa na vida da pessoa. É possível sentir ciúmes em uma amizade, por exemplo, quando a gente não tem certeza se a pessoa continuará a ser nossa amiga, ou se o afeto que ela tem por nós é tão forte quanto o que temos por ela. À medida que o relacionamento se torna mais sólido, esse tipo de ciúme desaparece sozinho. (2) Falta de maturidade emocional. Isso não é nenhum demérito. Precisamos crescer e nos desenvolver emocionalmente da mesma forma que fazemos fisicamente. Esse crescimento acontece com tempo e experiências. É natural sentir ciúmes quando ainda estamos em fase de desenvolvimento emocional. (3) Possessividade, isto é, achar que a outra pessoa nos pertence ou que é uma extensão de nós. Só porque alguém se relaciona conosco, não significa que temos controle sobre a vida dessa pessoa. E, dependendo do tipo de personalidade que temos, a consciência de que não controlamos o outro é meio assustadora. (4) Experiências passadas de traição, quebra de confiança, falsas amizades, que nos tornam inseguras e apreensivas. Até certo ponto, essa também é uma reação natural.

É possível que “pensamentos ciumentos” aflorem vez por outra, mesmo em um relacionamento estável, comprometido, de longa data. A questão é se escolhemos alimentá-los e agir em função deles ou não. Por isso namoro precisa ser compromisso sério, assumido depois de muita reflexão. Quanto mais convicção tivermos a respeito do afeto e da integridade da outra pessoa e quanto mais sentirmos a firmeza do compromisso, menos motivo real haverá para desconfiança. Teremos fatos sólidos para combater os “pensamentos ciumentos”.

Uma coisa que você pode fazer para ajudar nessa questão é procurar se concentrar mais na realidade presente, em vez de hipóteses futuras. Quando imaginamos inúmeros cenários mentais, com todas as suas ramificações e implicações, isso traz, por vezes, tanta fadiga mental e emocional quanto se essas coisas estivessem acontecendo de fato. Estou em um longo processo de aprender que o único momento em que podemos experimentar plenamente a graça de Deus é agora. Ela é suficiente para este momento, então é neste momento que devemos viver.

E o que você comentou sobre expressar suas opiniões e ter medo de perder a aceitação e amizade de pessoas chegadas é algo com que eu mesma luto até hoje, rsrs. Em parte, creio que isso se deve a uma personalidade mais introspectiva e, talvez, mais introvertida. Será que esse é seu caso também?

Além disso, pode acontecer de sermos muito duras e críticas conosco mesmas e acharmos que nossos amigos mais chegados também o serão. Duvido que você rompesse um relacionamento importante em sua vida “de bobeira”, sem antes tomar medidas para sanar os problemas, não é mesmo? Então, precisamos lembrar que nossos amigos e entes queridos também não dariam as costas para nós “do nada”, de um dia para o outro, sem sabermos o que aconteceu. Os relacionamentos verdadeiros em nossa vida são baseados em amor incondicional. Ninguém que gosta de nós de verdade vai simplesmente “parar de gostar” de nós.

Por fim, quanto a esse abismo que existe entre conhecimento e prática: bem-vinda à humanidade! Todos nós lutamos com discrepâncias e incoerências entre o que sabemos e o que fazemos. Quanto mais conscientes somos de nosso universo interior, mais intensa parece ser essa luta. Entre outras coisas, é disso que Paulo está falando em Romanos 7. Alguns pontos para considerar a esse respeito são: (1) como você mesma ressaltou, é um processo – aquilo que chamamos santificação. (2) Quando levamos a sério nosso relacionamento com Deus, ele controla o ritmo da santificação. É obra do Espírito, realizada no tempo e do jeito do Espírito. Se somos do tipo que gosta de controlar as coisas, essa é uma verdade difícil de aceitar. (3) Santificação não é quantificável. Não podemos ficar nos medindo e nos avaliando constantemente, pois não somos oniscientes. Não temos dados suficientes para avaliar se estamos “progredindo na fé” (aliás, não gosto dessa expressão). A única coisa que podemos fazer é nos agarrar com unhas e dentes a Deus e à sua graça – um momento de cada vez (como disse acima). Claro que podemos aprender com nossos erros e avaliar atitudes e pensamentos que ainda não estão totalmente em sintonia com Deus. Mas, esse não deve ser o foco central de nossos esforços. Quando desenvolvemos o hábito de voltar os olhos para Deus – quem ele é, como ele age, o que ele pensa – e não para nós mesmas e nossos defeitos), esse processo de santificação flui melhor. Manter os olhos fixos no autor e consumador da nossa fé (veja Hebreus 12.1-2) é uma questão de prática, de repetição contínua.  Fale com Deus e peça para ele ajudá-la a desenvolver o hábito mental de permanecer no momento presente, com o foco voltado para ele. Esse é um exercício para o resto da vida, que faz toda a diferença em nossa perspectiva diária e, melhor de tudo, que nós realizamos com o poder do Espírito.

Que esse seja nosso alvo para 2020 😀

Um ótimo começo de ano para você, amiga, debaixo da maravilhosa graça divina!

Kisses,

Su

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