Pergunta:

Muito obrigada por sua resposta, Su. Pensei muito sobre ela com ajuda de Deus. As diretrizes que você colocou vão me ajudar nos meus próximos julgamentos, para que sejam menos violentos. Aproveitei a oportunidade para pesquisar sobre o Martin Luther King, porque ele conseguiu fazer um movimento pacífico, mas não passivo. Isso ajudou não somente as pessoas negras a conquistarem seus direitos, como abriu porta para outros grupos sociais também. Isso me fez pensar que o legado do bem vive mais tempo. Eu quis olhar para ele porque quero aprender com pessoas que fizeram a diferença sem usar violência. Sobre a moça do caso fictício, não sei te responder, mas sobre a minha avó, ela não tinha noção de como o bullying incomodava minha mãe. Para ela era só implicância de criança, tanto que quando minha mãe contava ela não sabia aconselhar direito e dizia para tentar virar amiga delas, mas bem… não deu certo. Minha mãe tinha dez anos, e ela era mais uma cristã ritualística e não alguém que tinha um relacionamento profundo com Deus, isso nem era incentivado, mesmo que meus familiares fossem a igreja católica (depois de ter saído da evangélica por causa do meu avô, que queria que os filhos fizessem o batismo lá, se não me engano). Há um contexto muito grande por trás dessa história da minha mãe e eu prefiro não falar tudo, mas de toda forma, pouquíssimas coisas estavam dentro do ideal, então, nesse aspecto, mantenho minha visão de que minha mãe agiu para se defender e não consigo achar que ela fez mal, era o que ela sabia no momento. Além disso, não foi algo calculado, foi na hora da raiva. Não uma maldade premeditada. Apesar de minha avó ter sido ingênua quanto a este assunto, com outras coisas não era assim e minha pôde contar com ela.
Sobre a violência, gostaria de entender isso no contexto de guerra. Por exemplo, num dorama que assisti, o país dos coreanos estava sendo dominado pelos japoneses. Por isso, as pessoas criaram um exército próprio, tentando defender o próprio país. Isso incluía matar soldados japoneses e pessoas que estavam vendendo o país delas. Na maior parte das vezes, não era algo pessoal. Honestamente, para mim, numa situação em que não se crê em Deus, que seu país e seu povo estavam sendo maltratados por uma nação imperialista incapaz de respeitar o outro como ser humano (os japoneses foram extremamente cruéis), as linhas entre certo e errado ficam cinzentas. Quando um soldado japonês morria, por mais que ele também tivesse uma família, fosse amado e especial para alguém, eu ainda pensava que era uma pessoa a menos maltratando os outros, uma pessoa a menos ocupando um país que não era seu. Não sei o que as pessoas deveriam ter feito. Muitas vezes elas fugiram e tentaram ajudar seu país de longe, milhares foram mortas. O rei perdeu seus poderes para o Japão, eles dissolveram o exército, as leis não favoreciam os coreanos. Não vi saída outra vez. Tentaram pedir ajuda para outras nações, mas elas se recusaram. Os Estados Unidos foram um dos primeiros a apoiar e também os primeiros as saírem fora. Eu os vi tentando por meios lícitos, mas conforme outro país ia interferindo na lei deles, a liberdade ficava cada vez mais restrita. Muitas situações se tornaram “matar ou morrer”. Em situações como essa, seria “menos mal” fazer parte de um exército clandestino, buscando defender o seu país, as pessoas que você ama, sua cultura e direitos?
Mais uma coisa: acho que toda justiça é um pouco como uma forma de vingança. Só Deus sabe onde termina uma e começa outra dentro do coração das pessoas. Acho que se alguém tivesse feito algum mal digno de prisão contra mim, eu pediria justiça. Ou seja: “quero que essa pessoa seja presa e pague pelo mal que cometeu. Só assim posso me sentir aliviada.” Essa visão não me é muito diferente de “vou fazer o mesmo com essa pessoa, porque só quando ela pagar (no caso, sentindo mesmo), vou me sentir aliviada”. De maneiras diferentes os objetivos são os mesmos, um é lícito e outro não. Quando a justiça toma o lugar da vingança pessoal, Deus vai olhar para o coração daquela pessoa como um coração que busca a justiça ou que busca a vingança? Se eu me sentir vingada através da justiça, tudo bem?
Muito obrigada por ler. Eu espero não ter parecido rude ao explicar sobre a minha avó, se pareci, não era minha intenção. D.

Resposta da Sú:

Hello, D.! Que legal que você pesquisou sobre Martin Luther King. Ele é um ótimo exemplo de resistência não violenta. Outro exemplo muito interessante de estudar é Ghandi. Como você disse, pacífico não é passivo.

Quanto às questões da sua avó e mãe, você não foi nada rude. Pelo contrário. Aliás, quando eu fiz aquelas perguntas todas, não imaginei que você fosse respondê-las. Apenas levantei os vários questionamentos sobre as duas situações que você apresentou para mostrar como não podemos fazer julgamentos gerais e, muito menos, condenar outros sem saber todos os fatos. Não foi minha intenção criticar sua avó, mas, sim, mostrar que além da questão da violência, existem outras questões envolvidas (como, por exemplo, as dinâmicas familiares diversas). Eu verdadeiramente acredito que existem princípios que a Bíblia nos dá, mas que cada caso é um caso, que precisa ser analisado à luz das circunstâncias e apresentado para Deus de forma pontual e pessoal – para entender se/como os princípios se aplicam.

E, as questões que você colocou em relação a guerras, na verdade tocam os mesmos princípios da resposta anterior, mas em grande escala. Confesso que tenho algumas das mesmas dúvidas que você, então não vou poder formular uma resposta detalhada e categórica. É óbvio que todas as guerras, de todos os tempos, não faziam parte do ideal de Deus (nem mesmo de Israel contra os povos “pagãos”), mas, nem por isso, Deus deixou de agir. O ideal, a meu ver, é sempre nos esforçarmos ao máximo pela paz, buscar diplomacia, etc. Mas se é algo extremamente difícil para nós, cristãos, quem dirá para aqueles que não fundamentam seus valores em Cristo. É ingênuo esperar isso de líderes do mundo todo. O real é que situações de conflitos internos ou com outras nações sempre envolvem variáveis demais e gente demais para fazermos qualquer asserção simplista, tipo “é certo/errado”. Em minha opinião, se nosso país entrasse em guerra com outro país, fosse invadido ou passasse por um conflito interno, cada um de nós, cristãos, teria de se colocar diante de Deus e buscar sabedoria dele para tomar decisões. É difícil especular o que faríamos se estivéssemos no lugar de pessoas que se encontram em áreas de conflito hoje (ou no passado) pelo mundo afora. E, portanto, também é difícil julgar como essas pessoas agem/agiram.

E, por fim, a meu ver, existe (ou deveria existir) uma diferença entre justiça e vingança. Se queremos “ver justiça ser feita” apenas com o sentido de causar sofrimento à pessoa que cometeu o crime, é verdade que se torna uma forma de “vingança terceirizada”. No entanto, a verdadeira justiça deveria ter horizontes mais amplos: o bem geral da sociedade (e não apenas satisfazer meu desejo pessoal de aplicação de um castigo) e o bem da pessoa que está sendo castigada. O sistema não deveria ser apenas punitivo, mas também buscar a restauração e a reabilitação das pessoas sempre que possível. Aí, sim, seria justiça. E também deveria ter espaço para misericórdia, compaixão e perdão, como tem o “sistema judiciário” de Deus para conosco.

Todos nós temos dentro do coração uma parcela de desejo de vingança. Seria bobeira querer esconder isso de Deus. Portanto, a meu ver, cada um de nós faz bem em expressar esses desejos/pensamentos para Deus e pedir que ele nos ajude a enxergar as coisas com os olhos dele e a agir como Cristo. Isso só é possível pela graça, por meio de uma ação especial do Espírito em nós. Não tem nada de “nobre”, no sentido de que implica algum mérito nosso. É sempre obra de Deus. E até o desejo de buscar essa atitude e disposição é algo que temos de pedir para ele. Em resumo, nosso desejo distorcido de justiça, que se torna mero desejo de retaliação, só pode ser corrigido se deixarmos que o Espírito forme em nós a mente e o coração de Cristo. Esse é o ideal rumo ao qual nós caminhamos, aos trancos e barrancos, em meio ao real 🙂

Continue perguntando e pesquisando. Esse é um assunto com muitas nuanças que, provavelmente, não vai se esgotar com apenas meia dúzia de perguntas e respostas, kkk. Estou à disposição para seguirmos com a conversa!

Kisses,

Su

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