Pergunta:

Graça e paz Su. Estou orando todos os dias, nem que seja um pouquinho, e tento ter orações mais especificas durante a noite, e lendo a bíblia também, e as vezes vejo video devocionais, tem canais bem interessantes que orientam nós cristãos. Su, eu sinto que sou indiferente. Quando meu tio morreu, e não chorei, nem senti nada, claro que prefiria que ele ficasse vivo, e também nós tínhamos uma relação mais ou menos, ele fazia brincadeiras, que eu não achava graça. Tenho dificuldade em chorar. Mas quando tenho vontade, da vontade chorar, gritar ao mesmo tempo, mas só em horas e lugares que são inconiventes. Queria poder chorar espontaneamente para Deus. As vezes tento reprimir quando tenho vontade, para chorar mais tarde para Deus, mas ai já passou. E não gosto de chorar, pois me dá dor de cabeça. Meu choro é curto, com poucas lágrimas, as vezes penso que poderia sofrer de um problema lacrimal, ou talvez só seja psicológico, devido ao reprimir todas as vezes que pediram para que eu engolisse o choro ou quando realmente queria. Se minha vó morresse hoje, não sei o que sentiria, acho que não sentiria tanta falta, e acho que provavelmente mais ninguém. E também me sentiria culpada por não sentir nada. Ela contou coisas da vida dela, que a minha bisavó era ruim de mais, que batiam nela e nas irmãs, que uma vez por pouca coisa, a mãe dela jogou um pedaço de madeira na irmã dela, que escorreu sangue da cabeça, que as irmãs tiveram que ajudar ela se lavar. O pai dela morreu, ela tinha por volta dos 9 anos, porque diz ela, que ele gostava de falar mau dos bandidos, e quando a pessoa fala demais, coisas acontecem. Tento compreender ela, e também minha mãe, que cresceu em um ambiente desestruturado. Minha mãe se dava melhor com meu avo que morreu antes de eu conhecer. Não conheci nem meu avo materno nem paterno. Meu pai era mais calmo que minha mãe, e ele não deixava ela brigar comigo. Ele morreu quando tinha 7 anos. Sinto que pode ter um fator biológico para meus comportamentos, da nossa família no geral. Eu fiz teste na escola de líderes da minha antiga igreja sobre temperamentos, e o meu deu sanguíneo, o segundo predominante não me lembro. E fiz testes onlines na internet, mas que são mais detalhados, e deu melancólico-sanguíneo. E tem muitas coisas a ver comigo, como a inconstância. Não sei você acredita nisso. Como posso lidar em situações de crises extremas. Quando minha mãe está brava e falando coisas, não posso sair. Ela quer me obrigar a ouvir. Desde já, obrigada. L.

Resposta da Sú:

Hello, L.! Graça e paz! Que coisa boa saber que Deus tem ajudado você a passar tempo com ele todos os dias. Esse é um presente e tanto que ele nos dá! Continue a pedir forças dele para consolidar essa rotina 🙂

Quanto à questão do choro, minha opinião é que nossa cultura tem algumas expectativas a esse respeito que nem sempre correspondem à realidade. De modo geral (óbvio que existem muitas exceções), somos um povo emotivo, ou seja, operamos muito com base nas emoções e, em muitos casos, existe a expectativa de que tenhamos emoções intensas e as expressemos de forma intensa.

Mas onde está escrito que precisa ser desse modo? Às vezes simplesmente não temos afeição por alguém, mesmo que seja uma pessoa próxima de nós. Afeição é algo cultivado, que exige esforço de ambas as partes. Não adianta forçar a emoção ou sentir-se culpada porque ela não está presente.
Se você não tem grande afeição e intimidade com alguém (mesmo que tenha um convívio próximo), por que se desmanchar em lágrimas com o falecimento da pessoa? E, mesmo que uma perda nos deixe profundamente entristecidos, quem disse que isso precisa, obrigatoriamente, se traduzir em choro? E quantos mililitros de lágrimas são suficientes? Rsrs. Conheço pessoas extremamente sensíveis, compassivas e amáveis que quase não choram. E, em outras culturas, o choro não ocupa um espaço tão grande quanto aqui.

O que complica as coisas é tentar chorar para preencher as expectativas de outros. E também, por vezes, reprimir o choro quando deveríamos deixar que ele viesse. Com o tempo, isso pode desregular as expressões emotivas. Concordo com sua observação de que a ordem para “engolir o choro” na infância pode ter efeitos mais tarde. Mas, não considero que essa seja a questão central.

Você disse que tem vontade de gritar/chorar em lugares inconvenientes. Já refletiu sobre os sentimentos por trás dessa vontade? Raiva? Frustração? Tristeza? Saudade? Indignação? Autopiedade? Compaixão por outros? Em minha opinião, pode ser mais produtivo focalizar as emoções em si, e não apenas a forma de expressão.

Quanto a avaliação de temperamentos, ela pode dar uma ideia de geral de algumas coisas, mas nunca é saudável nos colocarmos (ou colocarmos outros) dentro de caixinhas fechadas. Lembra-se do que conversamos sobre testes? É a mesma coisa. Somos complexos demais para ser categorizados desse modo. Pode ser útil você saber que tem características mais sanguíneas, mas isso não define, de maneira nenhuma, suas identidades e suas ações. Portanto, não se prenda demais a essa questão, ok?

E, quando você não puder sair fisicamente de uma crise (tipo, se sua mãe começa a falar um monte de coisas em um momento de raiva e você não puder sair da sala), então saia mentalmente/emocionalmente. Enquanto ela fala, escolha um ponto na sala e fixe o olhar nele. Ore em pensamento, pedindo que Deus acalme sua mãe, recite um versículo, pense em um lugar tranquilo. Quando ela terminar, diga que você prefere continuar a conversa quando todos estiverem mais calmos. Ou, simplesmente fique em silêncio.

Por fim, quanto à outra mensagem que você enviou esta semana, infelizmente não posso publicá-la, por uma questão de política do blog. Sei que você dedicou tempo e esforço para resumir os conselhos. Todos eles são bem pertinentes, e acho muito louvável você pensar nas meninas mais jovens que estão passando por uma porção de desafios. Contudo, o espaço das perguntas é reservado para… perguntas (kkk)  e ocasionais desabafos. Quem sabe não é hora de você começar um blog também? Ou, de repente, seria bem legal publicar os conselhos que você enviou em suas redes sociais, ou fazer um vídeo a esse respeito. Pense nisso!

Em resposta à pergunta que você fez sobre gostar de menstruar, mesmo que seja forte e cause desconfortos, sim, isso é normal. Algumas meninas e mulheres sentem que a menstruação é uma afirmação de sua feminilidade e uma lembrança de sua fertilidade. Para outras, é algo neutro, tipo tanto faz. E, para outras ainda, pode trazer sofrimento e estresse, ou simplesmente parecer uma chatice. O importante é respeitarmos essas diferenças, sem exigir que outros encarem o ciclo menstrual (ou qualquer outra coisa) da mesma forma que nós.

Por hoje é “só”, kkk.

Bom fim de semana e até a próxima!

Kisses,

Su