Pergunta:

Olá de novo, Su! Gostei de sua resposta, e estou gostando de conversar com você. Noto que você não tem aquela “rigidez dogmática” comum do pessoal da igreja, e sabe trazer a religião para o mundo real, o que é essencial para dialogar com jovens. Sábio: não dá para ir logo querendo impor o ideal, pois não é assim que a vida real funciona, e aí temos que pedir direção clara de Deus para nos orientar no melhor caminho, ou no menos ruim. Eu confesso que às vezes fico bem irritada com certas igrejas do pessoal da minha família, e dá vontade de pegar eles pelo pescoço e sacudir, mas eu não estaria sendo tão intransigente quanto eles com as minhas ideias? É preciso sempre levar em conta a maneira como os outros entendem a religião, pois eu não sou Deus.
Também acho, o ideal é o diálogo sem nenhum contato físico, mas no mundo real às vezes o contato físico é necessário. Fazer a menina “dar um tempo” em outra parte da casa, sem celular, tv, etc faz um certo sentido, mas tenho algumas dúvidas. Será que sem ter nada para distrair-se, ela não vai ficar irritada, magoada no canto? Acho que é preciso dar alguma coisa útil para ela ocupar-se enquanto durar a disciplina. O que você sugere?
Eu pensei no que você sugeriu, e vou encontrar a forma certa de falar com aquelas meninas da minha família separando Deus de igreja e religião. Gostei do que você escreveu: Trazer Deus repetidamente para as situações diárias. Não vai ser fácil, pois elas estão muito condicionadas a ver Deus muito distante, acessível somente com a intermediação dos pastores, então Deus é “chato”, repressor, e se eu chegar falando de qualquer maneira elas também vão me achar “chata” igual ao pessoal da igreja. Preciso primeiro conquistar a confiança delas. De repente eu dou para elas aquele livro das garotas corajosas que você sugeriu, tive a impressão de que algumas podem até identificar ali sua história pessoal.
Graça e Paz! H.

Resposta da Sú:

Hello, H.! Fico feliz que nossas conversas estejam sendo produtivas 🙂 Imagino que sua situação dentro de sua família seja bastante delicada e exija muita sabedoria e diplomacia.

Um tema muito relevante dentro daquilo que você falou é a questão da transigência/intransigência. Infelizmente, muitas linhas religiosas são extremamente intransigentes e não se abrem para diálogo. E, por vezes, chegam a cometer abusos espirituais e psicológicos. Nesses casos, creio que precisamos ter compaixão das pessoas, orar por elas e procurar nos relacionar bem, mas não podemos simplesmente aceitar ideias que são nitidamente erradas e contrários ao princípio bíblico supremo do amor a Deus e ao próximo. É sempre muito difícil caminhar sobre essa linha fina de amar e aceitar pessoas, mas rejeitar e combater ideias que podem ser nocivas. Se fôssemos aceitar sem questionamento tudo o que é dito em nome de Deus e da Bíblia, teríamos de concordar com os massacres realizados durante as Cruzadas, com a escravidão e com vários outros horrores.  Que Deus nos cubra de discernimento dele para que dialoguemos de forma respeitosa, mas sem perder de vista as coisas mais fundamentais do relacionamento com Cristo.

Quanto a “dar um tempo”, achei interessante sua preocupação de que a menina fique magoada ou irritada. Não é muito mais insultante e irritante receber castigo físico? Mas, entendo sua preocupação e penso que esses períodos não podem ser extremamente longos (talvez uma hora, no máximo). E sim, pode haver alguma atividade, como ouvir música tranquila (desde que não seja no celular) ou fazer algum trabalho artístico (existem livros bem legais de colorir para adultos, por exemplo) ou alguma leitura. Não acho legal associar esse tempo a trabalho doméstico nem, em um primeiro momento, à leitura da Bíblia, pois pode dar a impressão de que essas coisas são “castigos”, o que não são. A ideia é que ela tenha um tempo para simplesmente acalmar os ânimos e refletir. Esse é um tempo para os pais e outros adultos também estarem em oração por essa jovem e para eles acalmarem os próprios ânimos. Analise se algo do tipo poderia funcionar em seu contexto. É importante entender que não se trata exatamente de uma disciplina, mas de uma pausa para todos respirarem e para proteger a menina fisicamente de qualquer castigo físico aplicado com raiva.  

E o trazer Deus para as situações diárias é um processo. Precisa acontecer aos poucos e de forma autêntica. Fazer uma oração curta (mas sincera e, quem sabe, não repetitiva) antes das refeições; ter um papel com um versículo sobre o amor de Deus no espelho do banheiro, na porta da geladeira ou outro lugar visível; ter um caderno ou quadro de gratidão para anotar presentes de Deus ao longo do dia – e por aí vai. Use sua criatividade para criar um ambiente do qual Deus faça parte e dê exemplo, mas sem forçar ou impor. Como você disse, é importante conquistar a confiança. Mas, isso também é trabalho do Espírito dentro do coração de cada pessoa. Que bom que podemos contar com a ajuda dele em todas as coisas!

Que Deus continue a abençoar você imensamente no lugar em que ele a colocou!

Até a próxima!

Kisses,

Su