Hello, D.! Que legal que você pesquisou sobre Martin Luther King. Ele é um ótimo exemplo de resistência não violenta. Outro exemplo muito interessante de estudar é Ghandi. Como você disse, pacífico não é passivo.
Quanto às questões da sua avó e mãe, você não foi nada rude. Pelo contrário. Aliás, quando eu fiz aquelas perguntas todas, não imaginei que você fosse respondê-las. Apenas levantei os vários questionamentos sobre as duas situações que você apresentou para mostrar como não podemos fazer julgamentos gerais e, muito menos, condenar outros sem saber todos os fatos. Não foi minha intenção criticar sua avó, mas, sim, mostrar que além da questão da violência, existem outras questões envolvidas (como, por exemplo, as dinâmicas familiares diversas). Eu verdadeiramente acredito que existem princípios que a Bíblia nos dá, mas que cada caso é um caso, que precisa ser analisado à luz das circunstâncias e apresentado para Deus de forma pontual e pessoal – para entender se/como os princípios se aplicam.
E, as questões que você colocou em relação a guerras, na verdade tocam os mesmos princípios da resposta anterior, mas em grande escala. Confesso que tenho algumas das mesmas dúvidas que você, então não vou poder formular uma resposta detalhada e categórica. É óbvio que todas as guerras, de todos os tempos, não faziam parte do ideal de Deus (nem mesmo de Israel contra os povos “pagãos”), mas, nem por isso, Deus deixou de agir. O ideal, a meu ver, é sempre nos esforçarmos ao máximo pela paz, buscar diplomacia, etc. Mas se é algo extremamente difícil para nós, cristãos, quem dirá para aqueles que não fundamentam seus valores em Cristo. É ingênuo esperar isso de líderes do mundo todo. O real é que situações de conflitos internos ou com outras nações sempre envolvem variáveis demais e gente demais para fazermos qualquer asserção simplista, tipo “é certo/errado”. Em minha opinião, se nosso país entrasse em guerra com outro país, fosse invadido ou passasse por um conflito interno, cada um de nós, cristãos, teria de se colocar diante de Deus e buscar sabedoria dele para tomar decisões. É difícil especular o que faríamos se estivéssemos no lugar de pessoas que se encontram em áreas de conflito hoje (ou no passado) pelo mundo afora. E, portanto, também é difícil julgar como essas pessoas agem/agiram.
E, por fim, a meu ver, existe (ou deveria existir) uma diferença entre justiça e vingança. Se queremos “ver justiça ser feita” apenas com o sentido de causar sofrimento à pessoa que cometeu o crime, é verdade que se torna uma forma de “vingança terceirizada”. No entanto, a verdadeira justiça deveria ter horizontes mais amplos: o bem geral da sociedade (e não apenas satisfazer meu desejo pessoal de aplicação de um castigo) e o bem da pessoa que está sendo castigada. O sistema não deveria ser apenas punitivo, mas também buscar a restauração e a reabilitação das pessoas sempre que possível. Aí, sim, seria justiça. E também deveria ter espaço para misericórdia, compaixão e perdão, como tem o “sistema judiciário” de Deus para conosco.
Todos nós temos dentro do coração uma parcela de desejo de vingança. Seria bobeira querer esconder isso de Deus. Portanto, a meu ver, cada um de nós faz bem em expressar esses desejos/pensamentos para Deus e pedir que ele nos ajude a enxergar as coisas com os olhos dele e a agir como Cristo. Isso só é possível pela graça, por meio de uma ação especial do Espírito em nós. Não tem nada de “nobre”, no sentido de que implica algum mérito nosso. É sempre obra de Deus. E até o desejo de buscar essa atitude e disposição é algo que temos de pedir para ele. Em resumo, nosso desejo distorcido de justiça, que se torna mero desejo de retaliação, só pode ser corrigido se deixarmos que o Espírito forme em nós a mente e o coração de Cristo. Esse é o ideal rumo ao qual nós caminhamos, aos trancos e barrancos, em meio ao real 🙂
Continue perguntando e pesquisando. Esse é um assunto com muitas nuanças que, provavelmente, não vai se esgotar com apenas meia dúzia de perguntas e respostas, kkk. Estou à disposição para seguirmos com a conversa!
Kisses,
Su