Pergunta:

3. Como amar por completo alguém cujas atitudes te deixam envergonhada às vezes? Suponhamos que a pessoa sempre fale errado uma palavra. E você já explicou para ela o jeito certo algumas vezes e não quer mais ficar sendo a chata que corrige. Então só resta ignorar e aceitar a pessoa como ela é? 4. Como amar as pessoas em cada fase delas respeitando quem elas são no momento? Como faço para gostar delas com falhas e tudo? Até que ponto é saudável? 5. Amor puro. Isso existe? Enquanto vivermos vai ser sempre complicado amar as pessoas que gostamos? Quando fico nervosa e me imagino falando um monte de coisas negativas para pessoas que gosto e que me irritaram, não sei se ainda as amo ou não, será que não estou apenas imaginando que falo tudo de ruim que já penso? Porque na minha mente, só quero ferir os outros com minhas palavras. Obviamente, na vida real, se eu fizesse isso, ficaria extremamente triste depois, pois poderia ter agido diferente. Não é bom fazer os outros se sentirem mal. 6. Por último, um pouco sobre minha história: como você sabe, há muitos anos tive um amigo de quem eu gostava e que começou a gostar de outra menina. Ele me pedia ajuda em relação a ela e ela também era minha colega, então também me pedia ajuda em relação a ele. Fiz o que pude por ele, mesmo que isso me deixasse infeliz. E deixou. E doeu muito. Então, conforme eu crescia, pensava que, caso eu entrasse numa situação parecida outra vez, diria ao meu amigo: “Olha, eu ainda gosto de você e para mim seria muito doloroso te ajudar a ficar com outra moça, então por favor, não me peça ajuda com isso.” Entretanto, andei pensando nisso ultimamente e percebi que não sei bem se essa seria uma boa ideia. Tem dois lado nisso: a) Não quero me sentir mal e por isso não ajudo. Tal atitude faz eu me sentir mal por deixar meu amigo abandonado nessa questão, estou cuidando dos meus sentimentos, mas sendo uma amiga ruim. b) Ajudo e me sinto bem por ajudar, mas me sinto mal por gostar dele. Tal atitude faz com que eu seja ruim para mim, o que é falta de amor-próprio ou limites. Então, qual decisão seria mais sábia? Abraços! D.

Resposta da Sú:

Hello, D.! Continuando com as respostas…
3 – Acho que a primeira coisa que precisamos pensar é que sentir vergonha alheia (sabe cringe?), ter dificuldade em aceitar certas coisas (pequenas e não tão pequenas) de outra pessoa, irritar-se com ela, ou ter outros sentimentos desconfortáveis ou até negativos, não é sinal de que não amamos. Amar não é sentimento, lembra? Amor tem a ver com aceitação, acolhimento, preocupação com o bem-estar do outro. Se você já fez sua parte em favor do bem da pessoa (nesse caso, procurou apontar um erro), e ela não quis ou, por algum motivo, não conseguiu aceitar essa correção, não tem nada de errado em você sentir vergonha de vê-la cometer o mesmo erro novamente. Aliás, a vergonha alheia muitas vezes é sinal de amor pelo outro, porque a gente se preocupa com a reputação dele, não quer que ele passe vexame, que cometa os mesmos erros repetidamente.

4 – De novo, amar e gostar não são a mesma coisa. Com frequência, os dois andam juntos, mas há ocasiões em que somos chamados a amar pessoas das quais não gostamos (veja definição de amor acima). Amar não é um sentimento ou uma preferência (como gostar, ter afeto, etc.). É por isso que Deus pode ordenar que amemos, pois o amor envolve escolha, decisão, ação. Enxergar além das falhas e dificuldades do outro (o que é diferente de ignorar/negar essas falhas) faz parte da decisão de amar. Desejar o bem do outro apesar dessa falhas e perdoar também são facetas do amor.

Mas há algo muito importante que precisamos entender: tem situações em que amar não é o mesmo que conviver, ter um relacionamento próximo. Em um relacionamento abusivo, por exemplo, é possível perdoar e desejar o bem de quem abusou de você. Mas, isso não significa que você vai continuar perto dessa pessoa, sabendo que ela cometerá mais abusos. Amar não é ser capacho nem vítima. Não é insistir em relacionamentos caracterizados por uma contínua falta de reciprocidade. Somos chamados a amar o próximo como a nós mesmos. Desamor próprio, que leva a nos colocar em situações doentias de total desigualdade e desequilíbrio, não é amor ao próximo. Por vezes, é necessário “amar de longe”. Esse é um amor difícil, pois vai contra as expectativas de outros. Mas é um amor que continua a desejar o bem para a pessoa amada e, quando possível, nos leva a realizações ações práticas em favor dela (mesmo que a distância).

5 – O amor de Deus por nós é puro e perfeito. Nosso amor por ele e por outros, como todas as demais coisas em nossa vida, está em processo de aperfeiçoamento (santificação). Temos de reconhecer que ainda não amamos a Deus, a nós mesmos e a outros de forma ideal, mas que o Espírito Santo está trabalhando em nós para nos aproximar cada vez mais do modelo supremo de amor, que é Cristo. Pensar ou falar coisas negativas não é, obrigatoriamente, sinal de falta de amor. É sinal apenas de que ainda há coisas que Deus precisa aperfeiçoar em nosso amor. Só porque temos pensamentos negativos sobre alguém, não significa que deixamos de amar a pessoa. O mais importante é o que vamos decidir fazer em relação a ela. E, se pisarmos na bola, magoarmos, dissermos coisas cruéis, o mais importante é pedir perdão e recomeçar, com plena consciência de que vivemos pela graça, e não em função de nosso perfeccionismo ou de nossas idealizações.

6 – O exemplo pessoal que você deu é uma aplicação prática dos conceitos acima. O que você fez pode ter parecido bonito e abnegado naquela circunstância, mas não significa que foi saudável. A meu ver, dizer não teria sido mais apropriado. Não seria mesquinhez, seria apontar para seu amigo que ele estava pedindo de você algo que você não tinha condições de oferecer. Aliás, esse é outro aspecto do amor – perceber que há limites e deixar nas mãos de Deus tudo o que vai além deles. Não temos responsabilidade de suprir todas as carências e de atender a todos os desejos das pessoas que amamos. Precisamos buscar com humildade a direção de Deus sobre isso, para não tentar ser heroínas de romances de séculos passados, por mais nobre que pareça. Afinal, nossa maior prioridade não é agradar a outra pessoa (por maior que sejam nosso amor e afeto por ela), mas agradar a Deus, fazer aquilo que ele tem em mente para nós – mesmo que vá contra padrões e expectativas humanas.

Resumo da ópera: Debaixo da direção do Espírito, precisamos repensar continuamente nossas definições de amor e buscar ajuda dele para aplicar as definições corretas. Que o Senhor ajude você nesse processo!

Boa semana e até a próxima!

Kisses,

Su

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