Pergunta:

Quero conversar de muitas questões LGBT+ , mas vou colocar só duas hoje. Tenho dado uma olhada na linguagem neutra de gênero e entendo a importância dela, mas não sei se quero usar ao escrever/falar, a não ser que alguém me peça por causa de não se sentir bem com o uso de ele/ela. Sei também que ainda preciso me acostumar e as pessoas ao meu redor também. Seria essa uma forma de preconceito? (não querer usar a linguagem neutra). Eu achava muito chato quando era criança que o “neutro” fosse sempre masculino, tipo “os pais” “os professores” etc, em que pode estar incluído mulheres ou não. Mas ainda me sinto desconfortável com as adaptações e não sei até que ponto usar ou não, ou mesmo se ofendo alguém por fazer isso ou deixar de fazer. O que você pensa a esse respeito? Vi uma mulher falando sobre não definirmos as crianças como “masculino” ou “feminino”. Entendo que essas nomenclaturas geram uma expectativa sobre os papéis sociais que a criança cumprirá, mas não quero, caso tenha filhos, colocá-los como de gênero “neutro” acho isso invasivo na forma como criarei eles e , no entanto, ela parecia muito certa de que isso é o ideal. O mundo anda tão complicado…mas do mesmo jeito que eu não gostaria que minha sexualidade fosse negada, também não quero que isso aconteça com meus filhos. Você acha que estamos sendo “opressores” por determinar o gênero de um filho? Talvez só aos olhos do mundo, mas não aos de Deus? D.

Resposta da Sú:

Sobre linguagem neutra, em linhas gerais eu sou a favor. No entanto, ainda estou pensando em como colocar em uso sem causar escândalo para alguns irmãos em Cristo. Peço a Deus que dê sabedoria para navegar nessas águas meio turbulentas. Gosto da língua inglesa porque ela (como outras línguas) é bem menos voltada para gênero. Objetos e adjetivos, por exemplo, são neutros. A cadeira não é menina e o livro não é menino, kkk. Acho estranho atribuirmos gênero a coisas. Também acho que o uso do plural masculino reflete uma falta de respeito/consideração pelas mulheres. Noto que alguns líderes cristãos mais esclarecidos, por exemplo, têm se esforçado para ser mais inclusivos, ao falar de “irmãs e irmãos”, “discípulas e discípulos”, etc. A linguagem neutra seria útil nessas ocasiões para simplificar o discurso. Só porque não concordo com todas as coisas LGBT+, não significa que algumas questões levantadas pelo movimento não sejam bastante válidas. A língua é dinâmica e, a meu ver, está na hora de o português refletir as mudanças (muitas delas boas) que estão acontecendo em nossa sociedade. Na Bíblia NVT, por exemplo, procuramos usar linguagem inclusiva. Onde passagens bíblicas dizem “homem”, mas se refere a todas as pessoas, traduzimos como “humanidade” ou “seres humanos”. Esse é um passo. O próximo seria a linguagem neutra.

Sobre interssexualidade, é algo bem complexo, especialmente quando a gente mistura com transsexualidade e outras questões, como fez a pessoa do texto que você enviou. Concordo que precisamos estudar e entender muito melhor esse assunto. E, a meu ver, quando nasce uma criança com características visivelmente interssexuais em uma família cristã, é necessário que os pais busquem muita direção e clareza de Deus antes de tomar qualquer decisão. Afinal, só Deus pode revelar os planos que ele tem para essa vida, em todos os aspectos, o que inclui o gênero. Precisamos cuidar, porém, para não ir a extremos e imaginar que “muitos são interssexuais e nem sabem”, como se gênero fosse algo totalmente fluido ou desconhecido, do ponto de vista fisiológico e psicológico. O que nos leva à pergunta seguinte.

Se o fato de uma pessoa ter nascido interssexual está debaixo do controle soberano de Deus, também podemos dizer, de modo mais amplo, que quem define o gênero de cada um de nós é Deus. Nosso gênero é um presente bondoso dele. Não é igual uma peça de roupa que eu posso escolher de acordo com minha conveniência. Deus, que muitos antes de eu nascer já havia escrito toda a minha história de vida conforme seus bons propósitos, sabia que eu serviria melhor a ele e outros e daria mais glória a ele como menina. Meu gênero faz parte do “pacote” que ele formou quando me criou.

Portanto, não existe absolutamente nada de “opressor” em reconhecer o gênero que Deus deu para cada ser humano. Concordo plenamente que não devemos atrelar determinados papéis a cada gênero, pois não é isso que a Bíblia ensina. Também devemos cuidar para não estereotipar tudo (azul e carrinhos para meninos, rosa e bonecas para meninas). Mas, se uma criança nasceu com características físicas de menina, podemos entender como Deus sinalizando para a família e para a criança que esse é gênero que ele escolheu para ela. Essa criança deve ser educada ciente de que esse foi o gênero que Deus deu para ela. Se, ao longo do caminho, surgirem outras questões (atração pelo menos sexo, desconforto com o próprio gênero, etc.), elas precisam ser tratadas com delicadeza, sensatez e direção de Deus. Mas não devemos deixar o gênero em aberto até que a criança tenha idade para escolher. Em certo sentido, é como as questões de fé. Os pais cristãos não devem esperar até o filho ser adolescente para falar de Deus e deixar que o filho decida se quer seguir a Cristo ou não. O filho deve ser educado dentro da realidade de que existe um só Deus e um só caminho para viver com ele. Mais tarde, certamente surgirão dúvidas e questionamentos que precisarão ser trabalhados, mas o fundamento tem de ser construído na infância.

Precisamos de muito discernimento para lembrar que “minha sexualidade” na verdade não é minha. Assim como “meu corpo” não é meu. Nosso corpo, nosso gênero e nossa sexualidade são nossos apenas no sentido de que Deus os entregou a nós como presentes muito preciosos, mas que foram criados por ele, para ser usados como ele mostrar, pois esse é o caminho para a verdadeira plenitude. Saber disso torna nosso corpo, nosso gênero e nossa sexualidade ainda mais dignos de respeito e valorização, pois são meios de adorarmos a Deus e mostrarmos amor a ele e ao próximo. Cada uma das muitas ramificações e das inúmeras questões de gênero precisa ser enxergada por essa lente. Se colocarmos em primeiro lugar o senhorio e o amor de Deus por nós, encontraremos, um pequeno passo de cada vez, o caminho para o acolhimento de todos, sem preconceitos e sem intolerância, mas sem abrir mão dos valores que Deus nos deu.

Boas reflexões para você e até a próxima!

Kisses,

Su

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