Sobre linguagem neutra, em linhas gerais eu sou a favor. No entanto, ainda estou pensando em como colocar em uso sem causar escândalo para alguns irmãos em Cristo. Peço a Deus que dê sabedoria para navegar nessas águas meio turbulentas. Gosto da língua inglesa porque ela (como outras línguas) é bem menos voltada para gênero. Objetos e adjetivos, por exemplo, são neutros. A cadeira não é menina e o livro não é menino, kkk. Acho estranho atribuirmos gênero a coisas. Também acho que o uso do plural masculino reflete uma falta de respeito/consideração pelas mulheres. Noto que alguns líderes cristãos mais esclarecidos, por exemplo, têm se esforçado para ser mais inclusivos, ao falar de “irmãs e irmãos”, “discípulas e discípulos”, etc. A linguagem neutra seria útil nessas ocasiões para simplificar o discurso. Só porque não concordo com todas as coisas LGBT+, não significa que algumas questões levantadas pelo movimento não sejam bastante válidas. A língua é dinâmica e, a meu ver, está na hora de o português refletir as mudanças (muitas delas boas) que estão acontecendo em nossa sociedade. Na Bíblia NVT, por exemplo, procuramos usar linguagem inclusiva. Onde passagens bíblicas dizem “homem”, mas se refere a todas as pessoas, traduzimos como “humanidade” ou “seres humanos”. Esse é um passo. O próximo seria a linguagem neutra.
Sobre interssexualidade, é algo bem complexo, especialmente quando a gente mistura com transsexualidade e outras questões, como fez a pessoa do texto que você enviou. Concordo que precisamos estudar e entender muito melhor esse assunto. E, a meu ver, quando nasce uma criança com características visivelmente interssexuais em uma família cristã, é necessário que os pais busquem muita direção e clareza de Deus antes de tomar qualquer decisão. Afinal, só Deus pode revelar os planos que ele tem para essa vida, em todos os aspectos, o que inclui o gênero. Precisamos cuidar, porém, para não ir a extremos e imaginar que “muitos são interssexuais e nem sabem”, como se gênero fosse algo totalmente fluido ou desconhecido, do ponto de vista fisiológico e psicológico. O que nos leva à pergunta seguinte.
Se o fato de uma pessoa ter nascido interssexual está debaixo do controle soberano de Deus, também podemos dizer, de modo mais amplo, que quem define o gênero de cada um de nós é Deus. Nosso gênero é um presente bondoso dele. Não é igual uma peça de roupa que eu posso escolher de acordo com minha conveniência. Deus, que muitos antes de eu nascer já havia escrito toda a minha história de vida conforme seus bons propósitos, sabia que eu serviria melhor a ele e outros e daria mais glória a ele como menina. Meu gênero faz parte do “pacote” que ele formou quando me criou.
Portanto, não existe absolutamente nada de “opressor” em reconhecer o gênero que Deus deu para cada ser humano. Concordo plenamente que não devemos atrelar determinados papéis a cada gênero, pois não é isso que a Bíblia ensina. Também devemos cuidar para não estereotipar tudo (azul e carrinhos para meninos, rosa e bonecas para meninas). Mas, se uma criança nasceu com características físicas de menina, podemos entender como Deus sinalizando para a família e para a criança que esse é gênero que ele escolheu para ela. Essa criança deve ser educada ciente de que esse foi o gênero que Deus deu para ela. Se, ao longo do caminho, surgirem outras questões (atração pelo menos sexo, desconforto com o próprio gênero, etc.), elas precisam ser tratadas com delicadeza, sensatez e direção de Deus. Mas não devemos deixar o gênero em aberto até que a criança tenha idade para escolher. Em certo sentido, é como as questões de fé. Os pais cristãos não devem esperar até o filho ser adolescente para falar de Deus e deixar que o filho decida se quer seguir a Cristo ou não. O filho deve ser educado dentro da realidade de que existe um só Deus e um só caminho para viver com ele. Mais tarde, certamente surgirão dúvidas e questionamentos que precisarão ser trabalhados, mas o fundamento tem de ser construído na infância.
Precisamos de muito discernimento para lembrar que “minha sexualidade” na verdade não é minha. Assim como “meu corpo” não é meu. Nosso corpo, nosso gênero e nossa sexualidade são nossos apenas no sentido de que Deus os entregou a nós como presentes muito preciosos, mas que foram criados por ele, para ser usados como ele mostrar, pois esse é o caminho para a verdadeira plenitude. Saber disso torna nosso corpo, nosso gênero e nossa sexualidade ainda mais dignos de respeito e valorização, pois são meios de adorarmos a Deus e mostrarmos amor a ele e ao próximo. Cada uma das muitas ramificações e das inúmeras questões de gênero precisa ser enxergada por essa lente. Se colocarmos em primeiro lugar o senhorio e o amor de Deus por nós, encontraremos, um pequeno passo de cada vez, o caminho para o acolhimento de todos, sem preconceitos e sem intolerância, mas sem abrir mão dos valores que Deus nos deu.
Boas reflexões para você e até a próxima!
Kisses,
Su