Pergunta:

Su, qual é a diferença da misericórdia que todo o cristão deve ter para com os outros entre o dom da misericórdia? Já que Paulo afirma em suas cartas que nem todos possuem o mesmo dom e que nem todos terão todos os dons. Ou seja, o dom da misericórdia, com certeza é diferente do sentido mais amplo da misericórdia que todo o cristão deve ter; porque nem todos possuem este dom. Mas qual é essa diferença? Qual é a linha tênue entre elas? Da mesma forma também pergunto, qual a diferença entre a fé que todos os cristãos devem possuir e o dom da fé que nem todos possuem? Oi Su, eu de novo… A Bíblia diz que os dons são irrevogáveis (Rm 11.29), pelo que eu entendi é que não podem ser tirados. Corrija-me se eu estiver errada nesse sentindo. Logo, vem uma questão: Quando se dá palavras sobre dons e talentos nas igrejas, a maioria dá exemplo na Parábola dos Talentos (mas explicam que “talento” era uma moeda, mas só estão fazendo uma analogia). No entanto, a parábola diz que aquele que não soube administrar o seu “talento”, o Senhor tirou dele para dar ao que tinha mais (Mt 25.14-30). Aí fica a dúvida: Deus tira o dom de quem não usa? Já que o da parábola não usou o “talento” (moeda) dele. Caso a resposta seja sim, então por que a Bíblia diz que é irrevogável? Caso a resposta seja não, seria mais prudente não usar esta parábola para se referir aos dons já que pode gerar essa dúvida na cabeça das pessoas? Ou eu realmente não entendi a leitura do final do texto da Parábola dos Talentos? Será que deu pra entender? (risos) São tantas questões que passam pela minha cabeça… Ajuda aí Su! Bjos. A.

Resposta da Sú:

Hello A.! Como suas perguntas são sobre o mesmo assunto, vou responder as duas aqui, ok?

Primeiro, a meu ver, muitos dos dons são uma “porção adicional” ou uma “versão turbinada” de coisas que o Espírito vai trabalhando na vida de todos os cristãos, como fé, misericórdia, serviço, intercessão.

Também são voltados especificamente para a edificação da igreja como comunidade, e não apenas para os relacionamentos pessoais. Por exemplo, todos os cristãos são chamados a orar uns pelos outros, mas alguém com um dom específico nessa área provavelmente terá desejo de perguntar com mais frequência “Como posso orar por você?”, terá mais iniciativa de organizar e participar de grupos de oração na igreja, no Whatsapp, fazer listas de pedidos/respostas, ou talvez se sentirá mais à vontade para orar em público, ou terá prazer em interceder de maneiras bem detalhadas, e assim por diante. Da mesma forma, todos somos chamados a servir uns aos outros, mas alguém com o dom de serviço talvez se mostre mais atento para necessidades específicas, tarefas a serem realizadas, formas de organizar trabalhos, e por aí afora.

Em minha opinião, por vezes nos preocupamos demais em identificar e exercitar nossos dons. Algumas igrejas têm testes, cursos, etc. Claro que é importante aprendermos sobre os dons. Mais importante, porém,  é simplesmente nos colocarmos à disposição de Deus para que ele nos mostre como podemos servir a outros em nossa comunidade de fé. Se nos concentrarmos demais em uma categorização de dons, pode acontecer de perdermos oportunidades de ministrar, nos tornarmos confusos ou até arrogantes a esse respeito. Sempre que perguntamos a Deus com sinceridade como podemos ajudar a edificar o corpo, ele nos mostra, mesmo que não tenhamos todo o conhecimento “técnico” e a nomenclatura certa. Aliás, os textos bíblicos que falam sobre dons não são absolutos e completos. Se você observar, verá que eles mencionam apenas algumas das capacitações especiais que o Espírito concede para que contribuamos para fortalecer o Corpo de Cristo. Se você deseja usar bem os seus dons, cultive a atitude de disponibilidade e serviço de Maria, que disse: “Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra” (Lucas 1.38).

Quanto a Romanos 11.29, recomendo que você leia o capítulo todo, pois esse não é um texto sobre os dons do Espírito. Aliás, onde aparece “dons” nesse versículo, algumas versões trazem “bênçãos”, pois esse é o sentido mais exato. Paulo está falando da questão dos judeus e dos gentios e dizendo que, embora os gentios também façam parte da aliança com Deus, as bênçãos prometidas por Deus a Israel não foram revogadas.

E, em minha opinião, a parábola dos talentos em Mateus 25.14-30 está entre alguns dos textos mais mal usados/aplicados/interpretados da Bíblia. Precisamos lembrar que parábolas contam uma história para mostrar um significado espiritual mais profundo e, portanto, não podem ser interpretadas de forma literal. Quando Jesus contou a parábola da ovelha perdida, por exemplo, não estava falando da importância de cuidar bem dos animais. Estava falando de como Deus toma a iniciativa de nos procurar e nos salvar. Aqui, é a mesma coisa. Não é uma história simplesmente sobre bom uso de recursos/dons ou como fazer investimentos financeiros. É sobre o quanto cada servo conhecia verdadeiramente seu senhor e confiava na bondade dele. O último servo se complicou porque tinha uma imagem terrivelmente distorcida e negativa do senhor (veja o v. 24), que não correspondia de maneira nenhuma à realidade. A meu ver, essa parábola nos mostra que, se não conhecemos bem a Deus, vivemos com medo, sem liberdade de agir, tomamos decisões infelizes que não alegram o coração dele. Quanto mais entendemos sua bondade e sua justiça, mais livres somos para viver dentro de seu amor, servir outros, compartilhar recursos e nos dedicar a edificar o reino.

É isso, amiga. Se quiser, releia as passagens bíblicas que você mencionou (1Coríntios 12 também fala bastante dos dons) e, se ainda tiver dúvida, é só passar aqui novamente.

Até a próxima!

Kisses, Su

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