Hello, D.! Coloquei aqui apenas a sua primeira pergunta, mas li tudo o que você enviou essa semana : )
Primeiro, é muito bom saber desse insight que você teve de que Deus trabalha em longo prazo. Ele vê nossa vida como um todo. Embora ele se importe com cada detalhe, ele também tem um plano maior. E tudo o que ele faz ou permite é parte desse plano de nos tornar mais semelhantes a Cristo e nos preparar para o dia que nos encontraremos com ele face a face. Precisamos voltar repetidamente a essa realidade, pois nos esquecemos dela facilmente (eu, pelo menos, tenho umas crises sérias de “amnésia espiritual”, kkk).
Segundo, quanto a amor incondicional, temos de começar com uma definição de amor. Não é afeto e não é paixão. Claro que em um casamento, por exemplo, você vai ter uma mistura das três coisas, mas enquanto o afeto pode ser abalado e a paixão pode ir e vir, em minha opinião o amor pode ser constante e incondicional. Isso é possível porque não se trata de um sentimento, mas de uma decisão. Amor tem a ver com promessa/compromisso de zelar pelo bem da outra pessoa, não importa o que ela tenha feito ou deixado de fazer. Diante disso, mesmo em um casamento “falido”, por exemplo, em que uma das partes traiu a outra, ainda é possível amar a pessoa que cometeu a traição. Isso não significa que você vai ficar com ela e não significa que não haverá dor, decepção, raiva e morte da intimidade. Paixão e afeto sempre são afetados profundamente nesses casos. Mas, é possível escolher continuar amando a pessoa, mesmo à distância. Nesse caso, amor talvez implique perdão e fazer o que for apropriado/possível pelo bem do outro (mesmo que seja “apenas” orar e não falar mal dele para outros).
Voltando ao nosso tema, ao pensar em outras questões (não de adultério, como exemplifiquei acima), ainda que a pessoa conte para você algo chocante ou decepcionante, você pode tomar a decisão de permanecer ao lado dela e de promover o bem dela. Essa decisão, renovada muitas e muitas vezes na vida diária, é o que forma o amor incondicional, ou seja, a ideia de não impor esta ou aquela condição para continuar a desejar e promover o bem do outro. Faz sentido para você?
Ainda nesse item, agradeço por você ter esclarecido que tipo de “revelações” você tinha em mente. Concordo que não é necessário nem saudável trazer para um namoro ou casamento cada minúsculo detalhe, defeito ou erro do passado, especialmente quando não tem nenhuma relevância para o presente. Um exercício desse tipo seria até um tanto mórbido, e contrário à ideia de que algumas coisas perdoadas e resolvidas precisam ficar para trás. Meu enfoque, como você deve ter observado, foi sobre coisas do presente, especialmente coisas que são relevantes para o relacionamento e que revelam nosso coração para a outra pessoa. E, óbvio, coisas pelas quais os cônjuges orem um pelo outro. Como sempre, é questão de pedir discernimento para Deus. E fique muuuito à vontade para discordar de mim, rsrs. Esse é um espaço seguro, em que concordância não é condição para aceitação : )
Por último, estava pensando no que você relatou sobre as interações com seu amigo e a questão de conflito de motivações. O que me veio à mente (influenciada por minha própria experiência em coisas parecidas, rsrs) é que você está se colocando no papel de “estagiária do Espírito Santo”. Estagiário é alguém que está tentando aprender uma função, tentando imitar o que o profissional já estabelecido faz. Na vida profissional isso é ótimo, mas na vida espiritual não funciona. Deus colocou seu Espírito dentro de nós exatamente para que não precisemos nos firmar exclusivamente em nosso parecer. Quando tentamos sondar nosso coração e julgar detalhadamente cada uma de nossas motivações, estamos desempenhando um papel que não cabe a nós, mas ao Espírito. Em Provérbios 3.5, lemos: “Confie no Senhor de todo o teu coração e se apoie em seu próprio entendimento”. E 1Coríntios 2.10 diz que “o Espírito examina todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus”. Se o Espírito (que é Deus) tem poder de examinar seu próprio ser, que é infinito e eterno, será que não podemos confiar que ele tem poder para examinar nossas motivações?
Isso não nos exime da responsabilidade de refletir sobre o que nos motiva, nem de avaliar nossas ações. Mas, mostra que não podemos fazer isso sozinhas. Não é um simples exercício intelectual. Quando voltamos o olhar para nosso ser interior, precisamos fazer isso em sujeição ao Espírito e com a amorosa ajuda dele.
Além do mais, enquanto Deus não tiver completado sua obra em nós, sempre haverá o risco de termos motivações mistas/conflitantes. Essa é uma questão difícil e frustrante para mim também, mas o que me ajuda é pedir que Deus pegue o que há de bom nessa mistura e use para o bem (por exemplo, para a edificação de um amigo, como na situação que você colocou), e para que ele perdoe e redima o que não é puro, como só ele pode fazer. Nunca vou conseguir avaliar com precisão se minhas motivações são 30%, 50% ou 70% puras. Mas, posso descansar e confiar que o Espírito me mostrará se/onde estou errando e o que preciso fazer (ou melhor, o que preciso buscar ajuda dele para fazer).
Por fim, há um aspecto adicional para você considerar. Se esses pensamentos todos estão causando angústia, se você não consegue sair dessa “rodinha de hamster” mental (como aconteceu por um bom tempo com sua questão de animes, etc.) e se não vê mudanças em sua paz de espírito mesmo depois de conversar repetidamente com Deus sobre algumas questões, pode ser boa ideia investigar os aspectos psicológicos e psiquiátricos só para ter certeza de que não existem elementos de obsessão e compulsão, ansiedade, e outras coisas mais. Por vezes, ficamos enroscadas em padrões de pensamento que podem ser alterados para melhor por meio de terapia e, em alguns casos, de medicamentos apropriados. Não tenho condições de avaliar se, pelo menos em parte, talvez seja seu caso, mas acho que vale a pena você conversar com profissionais dessas áreas. Pense nisso e, de repente, divida essa ideia com seus pais, que conhecem você bem : )
Que Deus continue a iluminar você
com o amor dele ao longo dessa jornada incrível, que você tem percorrido com grande
coragem!
Bom fim de semana e até a próxima.
Kisses,
Su