Hello, D.! É muito bom ver quanto crescimento Deus tem lhe dado e como ele tem cuidado de você ao longo dessa jornada. E, de fato, é uma jornada de herói em que vamos passar por muitos portais e, depois dessas passagens, nunca mais seremos exatamente as mesmas J Felizmente, temos a promessa de um final feliz: “Pois estou certo de que Deus, que começou esse bom trabalho na vida de vocês, vai continuá-lo até que ele esteja completo no dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).
Esse versículo nos diz algumas coisas importantes, que não responderão todos os seus questionamentos, mas que podem ajudar você a fazer as pazes com eles:
1 – O trabalho de amadurecimento que Deus está realizando em nós é bom. Temos a tendência de achar que coisas boas não envolvem sofrimento, angústia, perplexidade, etc. Mas, nossa vida é como a gestação e o parto normal: cheia de desconfortos, ansiedades, dúvidas e, por vezes, dor intensa. Nem por isso deixa de ser algo verdadeiramente bom. O objetivo supremo de Deus para nós não é nos poupar de sofrimento, mas sim, nos tornar cada vez mais parecidas com Cristo. Claro que, muitas vezes, ele tira nossa dor, dá consolo e alívio e nos poupa de coisas ruins aconteçam. Mas, nada disso é o propósito central.
2 – Deus começou esse trabalho em você e ele vai terminá-lo. Foi uma iniciativa dele, é responsabilidade dele e a conclusão será dele. Claro que temos participação (conversamos sobre isso em outras ocasiões), mas quem dita o ritmo e estabelece a conclusão de cada etapa é ele. Por mais difícil que seja, não temos nem devemos buscar o controle de nosso crescimento espiritual.
3 – Deus não nos remove da terra para realizar nossa santificação. Ele nos mantém inseridas em um mundo que tem coisas muito boas, mas que também tem inúmeras distorções que afetam nossa cosmovisão e nossa percepção de nós mesmas. E algumas dessas distorções estão dentro das igrejas, nos meios cristãos. Por exemplo, parte do seu sofrimento naquela fase talvez tenha vindo de ideias equivocadas sobre pecado e liberdade cristã. Se, como eu, você cresceu indo à escola dominical, é provável que tenha sido condicionada a um cristianismo comportamental, em que seu relacionamento com Deus depende de seu bom comportamento, em vez de gerar atitudes e ações agradáveis a ele. Ser instruída em doutrinas cristãs desde cedo é um imeeenso privilégio, mas, se há distorções (mesmo que pequenas) nesse ensino, o impacto pode ser extremamente forte, especialmente em pessoas mais introspectivas e com a consciência muito sensível.
4 – Por fim, precisamos tomar cuidado para não avaliar nosso “eu” de dois, três, dez anos atrás com base naquilo que sabemos hoje. É o mesmo que dizer: “Gente, como eu era burra quando tinha 2 anos. Nem sabia ler!”. Assim como as etapas de desenvolvimento físico precisam ser respeitadas e cultivadas e não podem ser apressadas, as etapas de desenvolvimento emocional e espiritual também precisam ser respeitadas. Não gaste tempo demais morrendo de pena de seu “eu” do passado, rs. Embora você não entenda todas as razões de ter sido um processo tão sofrido, agradeça a Deus porque ele estava claramente trabalhando com amor, bondade e graça. E continue a apresentar para ele seus questionamentos e até sua irritação com esse processo. Quando somos brutalmente honestas com Deus e, ao mesmo tempo, nos sujeitamos a ele, nossa intimidade com ele cresce e se fortalece. Jó, Davi e vários profetas são exemplos disso.
E, quanto a sua pergunta sobre o quanto devemos revelar em um relacionamento, eu sou a favor de que falemos tudo, sim. Mas (cá está ele de novo! kkk), esse “despir-se” para o outro deve acontecer de modo gradativo, acompanhando o crescimento da intimidade de alma e do compromisso. Honestidade absoluta anda em paralelo com o cultivo de um relacionamento de verdadeira segurança e aceitação total e de acolhimento mútuo. Afinal, se precisamos esconder partes de nós para ser aceitas, significa que o amor não é incondicional, não é mesmo?
Esse é um processo que leva décadas, tipo, a vida inteira, mas chega uma hora que você percebe que nenhum dos seus “bichos interiores”, por mais horrorosos que sejam, vai mudar como a outra pessoa vê você.
A meu ver, um namoro é um bom momento para falar desses “bichos” de um modo mais geral. À medida que o relacionamento avança, podemos nos tornar mais específicas, a ponto de revelar pensamentos assustadores até para nós mesmas.
Por exemplo, no início do relacionamento, compartilhei com meu futuro marido meu forte medo de situações em que não tenho alguma medida de controle. Alguns dias atrás (ou seja, milhões de anos depois daquela primeira conversa), falei para ele que passou por minha mente o desejo de que alguém (que eu não conheço pessoalmente) ficasse seriamente enfermo e, de repente, até morresse. Fiquei envergonhada e assustada com esse pensamento. Mas, contei para ele. Confessei que estava com medo da situação caótica de nosso mundo, sobre a qual eu não tenho nenhum controle, e entendi que meu desejo homicida era, em parte, resultado desse medo. Meu marido me acolheu e orou comigo. Nota como o tema das duas conversas foi o mesmo? O nível de revelação, porém, foi beeeem diferente. E, entre uma revelação e outra, teve uma vida inteira com milhares de outras conversas.
Na verdade, isso é assunto quase para um livro, rsrs. Mas espero que tenha conseguido lhe dar uma ideia geral. Se não entendi bem sua dúvida ou se quiser continuar a conversa sobre isso, é só escrever novamente.
Bom fim de semana e até a próxima!
Kisses,
Su