Pergunta:

Oi, Su! Tenho algumas perguntas hoje :) 1. Você fez algum curso preparatório para nos responder aqui? Como veio a participar do FaithGirlz? Você fica com medo de não saber responder uma pergunta ou de expor demais? 2. A política do Brasil tem me deixado confusa. Eu quero ser uma jovem mais participativa, mas parece haver tantas vozes. Esses dias ia ter uma votação de projeto de lei. Eu não concordei com dois pontos, mas em si, a medida era boa. No entanto, o pessoal da direita estava criticando. Eu considero os dois lados da moeda (ou tento, kk), só que eu realmente não sabia se o projeto seria bom ou não. Fiquei tão confusa que não votei em nada. Você teria alguma dica para mim? O que posso fazer em situações assim? Me senti omissa. 3. Eu vejo cristãos falando sobre não entrarmos em movimentos feministas e eu entendo que o porque é devido a várias pautas desses movimentos que vão contra a vontade de Deus e que devemos defender a vida independentemente. Mas eu vejo uma necessidade de sair desse “defender a vida” e ir para casos específicos. De ir para ações cristãs voltadas para esses grupos. Aliás, dentro de “ser cristã” em de determinda igreja há coisas que não concordo, mas ainda pertenço àquela denominação. Por que fazem tanto alarde quando uma mulher cristã se diz feminista? Sendo que há tantas vertentes dele? Muito obrigada por sempre me responder e ser gentil. Ando meio triste esses dias com tudo o que está acontecendo, mas aqui vejo uma manifestação do amor pelas pessoas e acho muito bonito, agradável e inspirador. D.

Resposta da Sú:

Hello, D.! Sempre bom encontrá-la por aqui 🙂

Vamos às (tentativas de) respostas, kkk.

1 – Trabalho com adolescentes faz um tempão, como chefe escoteira, professora de escola dominical e professora/autora de materiais didáticos. Em cada uma dessas áreas, tive oportunidade de fazer cursos e também de ler bastante coisa e ver o que funciona na prática. Além disso, tenho familiares e amigos que são psicólogos e conselheiros e aprendo muuuuita coisa com eles e com a literatura nessas áreas. A Mundo Cristão criou o blog FaithGirlz dez anos atrás e teve a ideia de abrir um espaço para perguntas. Na época, eu era responsável pela tradução de materiais para essa faixa etária, então eles me convidaram para manter o Pergunte à Su. E sim, eu tenho o maior medo de não saber responder perguntas e, pior ainda, de falar besteira! É uma responsabilidade enorme. Mais importante que o preparo que eu mencionei acima, é depender da capacitação, da sabedoria e da graça de Deus para conversar com cada menina que passa por aqui. Acho que o mais legal é ver que estamos todas aprendendo juntas a caminhar com esse Deus incrivelmente bondoso. Sou muito grata a ele por participar da jornada de vocês!

2 – Quanto a questões políticas, não sei se sou a melhor pessoa para aconselhar você, pois às vezes enfrento dilemas parecidos com o que você descreve. Em minha opinião, não devemos votar em propostas e candidatos só para dizer que estamos participando e cumprindo nosso “dever cívico” (como se votar fosse a única forma de fazer isso). Precisamos ter pelo menos alguma medida de convicção e paz a respeito das pessoas e propostas nas quais votamos. Em muitas ocasiões, minha consciência não me permitiu votar em ninguém. Preferi não participar e paguei a multa que a lei exige. Uma vez que vivemos em uma democracia, também temos o direito de não entregar nosso voto a ninguém. Não considero certo, por exemplo, votar no partido X só para evitar que o partido Y vença. E, por vezes, um candidato pode parecer ter boas propostas, mas demonstra um caráter sofrível. A meu ver, é preferível votar em uma pessoa íntegra e, se possível, que mostre por suas ações que é verdadeiramente temente a Deus (e não apenas que se diga evangélica), mesmo que essa pessoa seja considerada fraca ou menos competente. Creio que Deus pode usar essa pessoa mais do que alguém que tem astúcia política, mas não tem caráter e integridade. Com base nesses parâmetros, em última análise, torna-se bem menos importante se fulano é de direita, esquerda, centro ou qualquer outro lugar. Precisamos parar com essa polarização absurda que está acontecendo, pois ela só produz frutos ruins.

Ao considerar propostas e candidatos, portanto, o ideal é não olhar primeiramente para o “lado” que eles representam (esquerda/direita). Olhe para o que essas propostas significam à luz da Bíblia e o caráter verdadeiro que essas pessoas demonstram em suas ações. Nunca vamos encontrar pessoas e propostas perfeitas, mas se você realmente não se sentir à vontade, se não tiver paz com ninguém/nenhuma proposta, não vote. Isso não é omissão. É ter consciência de que votar é algo sério demais para a gente fazer de qualquer jeito.

Aliás, recomendo para você um texto excelente sobre esse assunto:

https://tuporem.org.br/bem-aventurados-os-isentoes-que-nao-sao-isentos/

3 – E algo parecido se aplica aos movimentos em favor de questões femininas. Concordo plenamente que não devemos jogar fora todo um conjunto de questões extremamente importantes só porque algumas pessoas dentro de algumas vertentes de movimentos que recebem o rótulo de “feministas” não “defendem a vida”. E quanto à vida das mulheres que sofrem violência doméstica ou mesmo são vítimas de feminicídio? Vale menos que a vida de um feto? Essas não podem ser questões mutuamente exclusivas. Se nos preocupássemos menos com rótulos, poderíamos ser muito mais relevantes para o mundo ao nosso redor. Jesus nos deu exemplo disso. Ele foi chamado, em outras palavras, de “baladeiro”, “marginal” e “terrorista” (ia a festas, conversava com “pecadores”, andava com o povo da periferia, e não falava amém para tudo o que os líderes religiosos diziam). Ele fez o que era certo, movido por amor, compaixão e justiça. Jesus não estava nem aí para os rótulos que ele receberia. Aliás, o simples fato de ele deixar sua glória para se tornar ser humano como nós e viver em nosso meio, mostra quais eram as prioridades dele e quais devem ser as nossas.

Sua comparação com questões denominacionais é muito correta, e podemos aplicar esse princípio a outras coisas. Por exemplo: acho super válido protestantes, católicos, muçulmanos, etc. trabalharem juntos para atender a pessoas em situações de rua, refugiados e outros vulneráveis.

Que o Senhor nos cubra de sabedoria, discernimento e intrepidez para servirmos a ele e a outros como Jesus fez, mesmo que sejamos rotulados, desprezados ou avaliados injustamente.

Paz de Cristo para você, minha amiga, e um bom fim de semana!

Kisses,

Su P.S. Muito obrigada por suas palavras sobre nosso espaço. Que Deus continue a manifestar o amor, a graça e o acolhimento dele em todas as nossas conversas! Bênçãos dele para você também em sua página no Instagram 🙂