Hello, D.! Parabéns (atrasadinhos)!!!! Que seu novo ano de vida seja cheio de experiências da bondade do Senhor!
Demorei a responder porque queria pensar com calma em tudo o que você perguntou. Vamos a algumas considerações.
1. Sobre amor exclusivo. Primeiro, Deus estipulou que o amor ligado ao compromisso de casamento é exclusivo (Gn 2.24 – homem e mulher estão no singular: um homem unido a uma mulher). Não é que o sentimento em si automaticamente exclui todas as outras atrações e possíveis afetos. O “amor de casamento” é exclusivo porque tomamos a decisão de mantê-lo desse modo. Assumimos o compromisso de dedicar nossos afetos e esforços ao bem-estar de uma pessoa só. Os casos bíblicos de poligamia são infrações claras da estipulação de Deus para o casamento. São exemplos típicos de ceder à cultura e aos costumes da época em que vivemos, sem levar em conta o ideal de Deus. Quando a Bíblia diz que Jacó, Elcana, Salomão e outros “amaram” mais de uma esposa, a ideia é que eles dividiram seus afetos e seus compromissos com mais de uma mulher (o termo hebraico traduzido como “amar” também significa “sentir atração por alguém”, o que inclui atração sexual). É algo que pode acontecer, mas que não deve acontecer (da mesma forma que alguém pode roubar um carro, mas não deve fazê-lo, rsrs). Do ponto de vista de Deus, esse não é o verdadeiro amor do casamento que ele criou. Embora “amor romântico” nos remeta de imediato a sentimentos e afetos, precisamos ter sempre bem claro que “amor de casamento” é muito mais ligado a decisão e compromisso. Quando digo, portanto, que gostar de duas pessoas ao mesmo tempo na verdade significa que não gostamos de ninguém, não é que não existe a possibilidade de múltiplos afetos. É que esse “gostar” não é o amor necessário para manter uma união saudável para a vida toda. Se você olhar para as histórias de polígamos como Abraão, Jacó, Elcana, Davi, Salomão, etc., verá que o fato de terem “amado” mais de uma pessoa trouxe um bocado de sofrimento para eles próprios e suas famílias.
2. A forma que o caráter de Deus é apresentado na Bíblia, como absolutamente justo e absolutamente bom, deixa claro que ele não fica inventando castigos para as pessoas. As consequências do pecado vêm do fato de Deus deixar as coisas seguirem seu curso natural. São ligadas, em geral, às três coisas que também nos tentam a pecar: nossa natureza decaída, o mundo decaído, e a ação de Satanás. É difícil esmiuçar o quanto cada uma dessas partes contribui para determinada consequência. A meu ver, geralmente é uma mistura. É importante entendermos que todo bem sempre vem de Deus. O mal, em contrapartida, tem várias fontes (como indiquei acima). Quando Deus remove sua influência bondosa (ou quando nos afastamos dela), esse mal gera as consequências. Por exemplo, quando o antigo Israel insistiu na idolatria, Deus permitiu que as grandes potências militares da época invadissem Israel e Judá e levassem o povo para o exílio. A idolatria afastou o povo do poder de Deus e de sua proteção. Por isso, os israelitas sofreram consequências da maldade/violência humana e de um mundo em estado de guerra, coisas que sem dúvida também foram instigada por Satanás. Vê como é difícil separar uma coisa da outra?
3. A doutrina da depravação total afirma que, depois da Queda, todos nós nascemos em um estado totalmente caído, separado de Deus. Isso significa que temos dentro de nós o potencial para maldades de todos os tipos. Quando Deus nos chama com sua graça irresistível, recebemos uma nova natureza. Embora ainda lutemos com aspectos da velha natureza decaída enquanto estamos aqui na terra, temos dentro de nós o Espírito Santo que vai nos transformando (santificação). Antes éramos escravos do pecado. Agora somos livres para servir a Deus. As tentações para cometer atos de maldade ainda existem e são ligadas aos três itens que mencionei anteriormente (nossa velha natureza, o mundo decaído e Satanás). Muitas vezes, Satanás usa os outros dois itens para nos tentar. Mas a Bíblia diz que nenhum cristão é tentado além das suas forças (1Co 10.13). Portanto, Satanás pode atacar um cristão com tentações, mas não tem como obrigá-loa pecar. E, mesmo naqueles que não são salvos, essa natureza corrompida não se manifesta sempre em grau máximo. Existem diversos fatores de personalidade, cultura, ambiente, criação, etc., que podem tornar pessoas mais ou menos propensas a alguns comportamentos e algumas ações. Também existe no mundo todo a influência da graça comum de Deus, que refreia muitas maldades.
4. E, para terminar, sim, eu já tive medo de pensamentos ruins como você descreve. Em minha opinião, isso acontece por dois motivos: (1) Refletimos muito pouco sobre o caráter de Deus – sua infinita bondade, amor, graça, misericórdia, soberania, gentileza, delicadeza, justiça, compaixão. Em vez disso, voltamos o foco para nossas limitações e imperfeições. Surge o medo de que pensaremos algo terrível, que poderá desagradar a Deus ou desonrá-lo de algum modo. Esse medo intenso de desagradar a Deus em pensamento pode ser sinal de que ainda não entendemos a aceitação e o amor absolutos e incondicionais de Deus.
(2) Somos introspectivas demais. Monitoramos nossos pensamentos o tempo todo, com medo de que eles fujam de nosso controle e aprontem alguma coisa, kkk. É verdade que um nível equilibrado de introspecção é importante. Mas, essa avaliação/monitoração interior pode passar do ponto. Quando 2Coríntios 10.5 fala de “levar cativo todo pensamento para que obedeça a Cristo”, não significa que nós devemos, com nossas próprias forças, buscar controle absoluto sobre todos os nossos pensamentos a fim de obrigá-los a serem obedientes a Cristo. Pelo contrário. Significa que devemos entregar nossa vida mental repetidamente para Cristo ao longo do dia para que ele controle o rumo de nossos pensamentos. Para mim, duas coisas que ajudaram foram: (1) refletir mais sobre quem Deus é e o que ele pensa (em vez analisar somente quem eu sou e o que estou pensando a cada instante) e (2) buscar atividades que me voltem para fora, para outros, e/ou que exijam concentração em algo específico, tirando-me da introspecção excessiva.
Mesmo que nossa mente fosse tomada de repente por um zilhão de pensamentos horrendos, eles não nos separariam do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Romanos 8.39).
Fim do textão! 😀
Boa semana para você, amiga, imersa na maravilhosa graça divina!
Kisses,
Su