Hello, D.! Sonhos recorrentes são, por vezes, o modo de nosso cérebro processar experiências mais intensas. Quando eu faço viagens mais longas, passo várias semanas sonhando com isso, rsrs.
Quanto a suas dúvidas, não tenho espaço aqui para responder de modo mais detalhado, mas vamos pelo menos ao básico:
1 – De fato, o Pentateuco não é fácil de ler. Um fator importante é considerar as leis do AT em seu contexto: (a) No antigo Oriente Próximo (onde ficava Canaã), se alguém roubava algo, podia ser morto por isso. Se alguém matava um membro de sua família, você podia matar meia dúzia da família dele. Se alguém acidentalmente matava um boi seu, você ia lá e destruía todo o rebanho do sujeito. E assim por diante. Olho por olho, dente por dente, foi uma forma de trazer equidade. Na verdade, foi um passo à frente em relação ao que havia antes. A pena de morte em Israel era reservada para casos muito específicos, e as cidades de refúgio evitavam casos de vingança pessoal. A forma como a pena capital era aplicada é chocante para nós, no século 21, mas não era para a cultura deles. (b) Em Levítico, “impureza” não tem o sentido de sujeira, humilhação ou qualquer outra conotação negativa, como ainda acontece em algumas culturas hoje. A Bíblia Nova Versão Transformadora é bem feliz na tradução desse termo, quando usa “impureza cerimonial” ou “cerimonialmente impuro”. Significava apenas que, para fins cerimoniais (não de relacionamento com Deus, mas de participação nas cerimônias), a pessoa não estava em situação “regular”. A ideia era destacar a imensa e absoluta santidade de Deus e nossa inadequação para estar na presença dele. Essas leis se aplicavam de modo igual a homens e mulheres. Um homem que tivesse uma polução noturna, por exemplo, também ficava cerimonialmente impuro. O que estava por trás dessas leis era totalmente diferente do que está por trás das restrições que vemos na Índia e em outros lugares. Uma israelita menstruada podia orar para Deus a qualquer momento, em qualquer lugar, com absoluta certeza de que seria ouvida e acolhida por ele. (c) Israel era uma teocracia. Tudo girava em torno de Deus. O objetivo de Deus era que, ao andar com ele, seu povo tivesse uma transformação de coração. E pessoas com o coração transformado, criariam uma sociedade verdadeiramente justa e compassiva. Deus nunca aprovou escravidão com a conotação que tem hoje, assim como Deus nunca aprovou estupro. Mas, ele deu a seu povo leis que regulamentavam situações em que isso acontecia a fim de minimizar os efeitos do pecado humano naquelas circunstâncias. (d) As leis de Israel protegiam mulheres, servos, crianças, viúvas, órfãos, etc., como nenhuma lei fazia naquela época. Assim como as instruções do NT, ela foi inovadora em muitos sentidos. De novo, precisamos olhar para ela com os olhos de pessoas que viveram mais de três mil anos atrás, e não com nossa mentalidade do século 21.
Essa é uma discussão longa, mas se você estudar Levítico mais a fundo, verá que Deus tinha motivos justos e bons para cada uma dessas leis esquisitas. Já naquele tempo, ele era o mesmo Deus de graça, misericórdia e compaixão que vemos depois em Jesus e no NT. As circunstâncias culturais, o momento dentro da história da redenção e uma série de outros fatores complexos explicam por que Deus expressou sua graça e amor de formas diferentes naquele tempo. Como disse, não tenho espaço para uma explicação detalhada aqui, mas recomendo que você leia Bíblias de estudo e comentários bíblicos sobre o Pentateuco (especialmente aqueles que trazem contexto histórico e cultural). Um exemplo bacana é este: https://vidanova.com.br/935-comentario-historico-cultural-da-biblia-antigo-testamento.html?search_query=comentario+historico+cultural&results=6
A Bíblia de Estudo Nova Versão Transformadora também traz uma riqueza de informações sobre essas questões.
2 – Quanto à lei da atração, meu conselho é que você fique beeeem longe disso, pois não tem absolutamente nada a ver com a Bíblia, nem com nossa caminhada com Cristo. Não podemos atribuir ao “Universo” ou a nós mesmos poder para fazer qualquer coisa. As passagens bíblicas que você citou não tratam disso. Elas são constatações gerais de como as coisas por vezes acontecem no mundo. Aliás, a maioria dos provérbios é dessa forma. Não são “leis”. É o mesmo que dizer: “Sempre que eu lavo roupa, chove”. Pelos princípios da “lei da atração”, eu atraio chuva ao lavar roupa. Pela constatação geral da realidade, porém, eu moro em uma região chuvosa e lavo roupas com frequência, o que significa que existe grande probabilidade de chover depois que lavei roupa. Entende a diferença?
Há várias passagens bem claras na Bíblia sobre como tudo gira somente em torno de Deus. Ele é o único que tem poder para fazer qualquer coisa: Atos 17.28 e Romanos 11.36 são dois exemplos. Claro que nossa atitude em relação à vida afeta a interação com outros e a percepção que temos da realidade, mas não temos poder para alterar a realidade só ao “declarar” ou “negar” coisas. O poder está no Deus para o qual oramos e nas mãos do qual entregamos nossa vida. Por exemplo, um enfermo cristão ora e recebe convicção de Deus que é da vontade dele que ele viva. Esse cristão receberá ânimo e forças de Deus para tomar as medidas necessárias para recuperar a saúde. Agora, se Deus lhe mostrar que ele não deve viver, esse cristão receberá forças de Deus para se despedir de seus entes queridos, morrer em paz e ir ao encontro do Senhor.
3 – Quanto aos desabafos e miscelâneas, rsrs. Também fico beeem cansada de papos sobre coisas, coisas e mais coisas. Nessas horas, sempre que posso, procuro um lugar quietinho para anotar num caderno os bons presentes de todo tipo que Deus me dá diariamente. A gratidão nos ajuda a lidar com o materialismo (inclusive dos outros), a voltar nosso foco para Deus e a manter nossas prioridades em ordem. É um ótimo exercício.
E, sobre resiliência, ela vem com o tempo. Não é algo que você precisa fazer força para cultivar. O importante é sempre voltar os olhos de novo para Cristo e para tudo o que ele fez por nós. De algum modo misterioso, isso vai nos tornando resilientes com o passar dos anos. Parece “mágica”, mas obviamente é obra do Espírito em nós. E um dos frutos do Espírito é paciência – conosco mesmas e com os outros (inclusive com aqueles que só falam de coisas!).
Por fim (ufa! kkk) quanto a seu amigo, entendo sua preocupação. A meu ver, o melhor que você pode fazer por ele é colocar-se à disposição, não pressionar e orar bastante. E, lamento informar (rsrs), mas essa é mais uma daquelas que coisas que se desenvolvem com o tempo. Algumas pessoas, especialmente as mais introspectivas como você, aprendem mais rápido a avaliar os próprios sentimentos e compartilhá-los. É preciso ter paciência (essa palavra de novo!) com aqueles que talvez demorem mais para desenvolver essa aptidão. Faça perguntas específicas ocasionalmente, mas não force nada. Peça para Deus lhe mostrar a hora certa de falar e a hora de deixar seu amigo quieto no canto dele, confiando que Deus vai suprir tudo aquilo que ele precisa.
Em última análise, como sempre, tudo o que acabamos de conversar nos leva de volta à confiança em Deus e em sua bondade. Graças a Deus porque ele é digno dessa confiança 🙂
Até a próxima!
Kisses,
Su