Pergunta:

Resposta da Sú:

Hello, F.! Sua pergunta tem a ver com um assunto que teólogos do mundo inteiro discutem há séculos. Isso significa que não há resposta simples. O que gera controvérsia é o fato de igrejas diferentes terem formas diferentes de interpretar textos bíblicos que falam sobre o papel do Espírito Santo. Aliás, quando se fala de “batismo do Espírito Santo”, também há formas diferentes de interpretar essa expressão. As igrejas pentecostais (como o nome diz), dão grande ênfase aos acontecimentos de Pentecostes, o dia em que o Espírito Santo veio sobre os primeiros cristãos (veja Atos 2). Elas acreditam que, para ser um cristão de verdade, aquelas experiências que eles tiveram precisam acontecer hoje também, do mesmo jeitinho, com muitos “efeitos especiais” e fortes manifestações sobrenaturais – falar em línguas estranhas, realizar curas, etc. Nesse caso, o “batismo do Espírito” é algo que precisa vir acompanhado dessas manifestações e, se um cristão não passa por essa experiência, talvez nem seja cristão de verdade. Algumas interpretações dessa linha acreditam, ainda, que é possível perder a salvação. Existem cristãos pentecostais muito sérios, que seguem a Palavra de Deus de perto e que buscam uma vida de santidade e dedicação ao Senhor. Existem, porém, igrejas que enfatizam muito o “espetáculo”, mas que não ensinam as pessoas a realmente andar com Deus, numa caminhada diária séria e sincera. Baseiam-se mais em emoções do que nas verdades da Bíblia.

Outras linhas denominacionais, como as igrejas reformadas (essa é a linha que eu sigo, só pra você saber) acreditam que  os acontecimentos de Pentecostes foram fatos históricos, apropriados para aquele momento da igreja, mas que aquelas experiências não são um requisito para ser cristão verdadeiro hoje. É mais ou menos como o que aconteceu com Ananias e Safira (Atos 5), que mentiram para os líderes da igreja e morreram. Hoje em dia isso não acontece mais (se acontecesse, teria muito crente caindo morto por aí, rsrs). No entanto, foi algo que precisou ocorrer no começo da igreja para reforçar que o Corpo de Cristo devia ser um lugar de honestidade, sem hipocrisia ou fingimento. Foi um acontecimento histórico específico, para aquele momento. Da mesma forma, a vinda do Espírito e os fenômenos que ocorreram naquela ocasião, foram fatos específicos daquele momento da história.

Para quem segue essa linha, o “batismo do Espírito” é o que acontece quando aceitamos Cristo como Salvador: o Espírito Santo vem morar dentro de nós para sempre e nos ajuda a permanecer firmes na fé. De acordo com essa linha, a salvação é para sempre, pois ela é pela graça e não depende de nada que nós fazemos, mas totalmente daquilo que Deus faz por nós. E, como Deus não faz nada pelas metades, ele não salva alguém só para “des-salvar” depois!

Quanto ao dom de línguas, eu sigo a interpretação de que as línguas que Pedro e os discípulos falaram em Pentecostes (Atos 2) foram idiomas conhecidos da época (mas que eles próprios não sabiam). Deus deu para eles a capacidade de falar nesses idiomas para pregar as boas-novas da salvação para pessoas de vários lugares do mundo que, naquela ocasião, estavam reunidas em Jerusalém para as festividades judaicas. Essas pessoas aceitaram a salvação e, depois, voltaram para suas casas, onde anunciaram o evangelho. Foi assim que o cristianismo começou a se espalhar.

Se você ler 1Coríntios 12—14, vai ver que Paulo também trata de um dom de línguas em que a pessoa fala em um idioma que ela não conhece para adorar a Deus de forma especial, quando está orando sozinha. Se esse dom se manifesta na igreja, é preciso que Deus providencie alguém para traduzir para os outros, de modo que o dom edifique toda a igreja. Do contrário, a pessoa deve ficar em silêncio (o que prova que não é algo incontrolável, como se “baixasse o santo” na pessoa e ela não pudesse fazer nada). Que valor tem para o crescimento dos irmãos alguém ficar falando um monte de coisas que ninguém entende? E, pior, se um não cristão estiver ali no meio, ainda vai achar que todo mundo é doido! A meu ver, Marcos 16.7 pode ser uma referência tanto ao que aconteceu em Pentecostes como a esse dom para a adoração pessoal e a edificação da igreja.

Aliás, acredito, sim, que Deus continua a conceder os dons do Espírito. Mas, esse trecho de 1Coríntios que eu lhe falei deixa claro que todos os dons são para a edificação do Corpo de Cristo, e não para fazer espetáculo, profetizar se a menina vai namorar ou não, ou simplesmente despertar emoções fortes. Os verdadeiros dons nos ajudam a crescer na vida com Cristo e fortalecem a igreja.

Resumindo: em minha opinião, o batismo do Espírito Santo acontece a todo aquele que crê em Jesus como Salvador e Senhor. Ele é a dádiva do Espírito no momento da conversão, que se estende para o resto da vida do cristão aqui na terra. Quanto mais perto de Jesus a pessoa anda, mais o Espírito tem espaço para desenvolver dentro dela as qualidades de Cristo (ou seja, mais o Espírito “enche” o interior da pessoa) – sem haver, obrigatoriamente, manifestações espetaculares. Uma vida cristã baseada em emoções e “grandes acontecimentos” é extremamente instável. A meu ver, a vida com Cristo precisa ser firmemente fundamentada na realidade de que ele nos salvou pela graça e de que, agora, devemos viver em grata obediência – ou seja, fundamentada em conhecimento, e não em sentimentos. Afinal, sentimentos vêm e vão.

Em conformidade com tudo isso que lhe falei, minha sugestão é que você busque uma igreja que dá total prioridade para o ensino da Palavra de Deus. Procure um lugar que tenha estudos bíblicos sérios, que buscam aprofundamento nas Escrituras, um lugar com escola dominical bem organizada para jovens e adultos (e não só para crianças), em que a maior parte do tempo do culto seja dedicada à pregação da Palavra. Procure um lugar em que você não sinta que precisa fingir algum sentimento ou sair do culto carregada de “emoções”. Para ser honesta com você, minha tendência pessoal é evitar grupos que enfatizem demais essa coisa de “sentir a presença de Deus” e de dar “palavras de revelação” para qualquer assunto. Romanos 12.1 fala de nosso “culto racional”, um culto em que a mente está buscando as verdades das Escrituras. Se a mente estiver alinhada com o evangelho, haverá momentos em que teremos fortes sentimentos, haverá momentos para dançar, chorar, pular, gritar e até orar a Deus em outras línguas, mas essa não será a tônica e o objetivo de nossa caminhada de fé.

Nossa, escrevi um monte, né? Rsrs. Pense nisso tudo com calma. Peça para Deus mostrar onde ele quer você neste momento. Peça clareza, sabedoria e direção, crendo na promessa de Tiago 1.5.

Até a próxima!

 

Kisses,

Su