Vi você colocar que a masturbação de vez em quando é convivência pacífica com os desejos. Eu já fiz às vezes, mas depois não me sinto bem e por Jesus saber que eu faço isso, e eu vi em sites evangélicos que devemos fugir de toda desejos da carne e imoralidade sexual. E que não é possível se masturbar sem imaginar sexo e também é uma forma de fornicação e prazer egoísta. O que você me diz sobre isso? L.

Oi, L.! Muito obrigada por dar continuidade a essa discussão tão importante. Existem algumas questões que precisamos considerar com calma antes de nos enchermos de culpa e taxarmos todo ato de masturbação como imoralidade e egoísmo.

Comecemos do começo: toda criança, ainda bem pequenininha, descobre que certas partes de seu corpo dão uma sensação mais intensa de prazer. Não existe absolutamente nada de imoral nem egoísta nisso, pois faz parte do processo de desenvolvimento. As crianças também descobrem que alimentos, cores, cheiros e sons agradáveis dão prazer. Vemos, portanto, que o prazer sensual (dos sentidos) não é, em si mesmo, pecaminoso. Pelo contrário, foi dado por Deus para desfrutarmos o mundo que ele criou!
No começo da puberdade, uma série de mudanças nos leva a prestar mais atenção em prazeres mais específicos, ligados a nossa sexualidade. Por vezes, as explorações iniciais do corpo nessa fase não são associadas a fantasias e pensamentos envolvendo outras pessoas, mas apenas às sensações. Nesse sentido, a masturbação faz parte, sim, da convivência normal com a sexualidade.
Como disse em outra ocasião, porém, com o tempo o ato de estimular o próprio corpo vem acompanhado de fantasias, tipo algo que vimos na mídia ou que simplesmente imaginamos. Isso gera uma vida de pensamentos um tanto bagunçada e cria hábitos dos quais temos dificuldade de nos livrar. Além do mais, provoca uma distorção da sexualidade, pois temos um pouquinho do prazer de uma relação sexual sem o envolvimento e o compromisso com outra pessoa (duas coisas que, acredite ou não, tornam o sexo mil vezes mais prazeroso!).

Embora o ato de se masturbar não faça parte do ideal de Deus, é quase certo que acontecerá de vez em quando (fazer fofoca, mentir, criticar com maldade o visual de uma amiga, tratar outras pessoas sem amor também não fazem parte do ideal de Deus, mas são tropeções que damos por vezes, e não são nem melhores nem piores que nos masturbar). Portanto, quando nos masturbamos, não devemos apenas pedir perdão pelo comportamento, pois ele é só o reflexo de um conjunto mais amplo de questões: aquilo que ocupa nossos pensamentos, as carências afetivas que talvez tenhamos, a falta de atividades nas quais possamos extravasar toda a energia que temos guardada, e assim por diante. Precisamos pedir que Deus trabalhe em nossa vida como um todo e precisamos aprender a aceitar a graça, a misericórdia e o perdão de Deus quando erramos o alvo que ele tem para nós (ou seja, quando pecamos) . Não adianta nada ser “pura” em sua vida sexual, mas tratar os pais com desrespeito, colar na prova, invejar aparência e coisas de outras pessoas, etc. e tal.

Por que eu estou dizendo isso? Porque uma vida sexual saudável antes e depois do casamento acontece no contexto de equilíbrio e caminhada próxima com Deus em todas as áreas. Não adianta chamarmos certas coisas de imoralidade e egoísmo e nos esquecermos de outras, pois a nossa vida interior é feita de um conjunto de pensamentos e sentimentos, que não ficam guardados em caixinhas separadas.

Embora a masturbação como hábito, especialmente acompanhada de uma série de pensamentos inapropriados, não seja o ideal de Deus para nós, precisamos estar cientes de que, se ela ocorrer, não deve ser motivo para nos afastarmos de Deus com vergonha e medo, mas sim, para nos aproximarmos ainda mais dele. Convém lembrar que, por vezes, parte da culpa que sentimos nessa área não vem de Deus, mas sim, daquilo que outras pessoas nos dizem. E Satanás gosta muito de usar a falsa culpa para nos distanciar de Deus. Pensamentos do tipo: “Puxa, eu cometi esse pecado outra vez! Deus com certeza já se cansou de mim. Tenho até vergonha de pedir perdão de novo. Sou suja e não mereço o amor de Jesus” NÃO são de Deus.
Lembre-se de que Jesus foi tentado em todas as coisas (inclusive na área sexual) e sabe exatamente como algumas situações são difíceis para nós. Leia com muita calma Hebreus 4.15 e pense sobre isso. E, se você tropeçar ou se a tentação parecer insuportável, achegue-se ainda mais a Deus para “receber misericórdia e encontrar graça que a ajude no momento da necessidade” (veja Hebreus 4.16).

Kisses,
Su